Sou uma cidadã comum que procura cumprir seus deveres e, da mesma forma, deseja ter seus direitos respeitados. Não aqueles direitos dos egocêntricos que detêm o poder temporal, tão passageiro quanto uma chama. Essas pessoas sequer sabem o que é dever, pois nunca aprenderam a exercitá-lo. Superestimam seus direitos além do que realmente têm. Não são cidadãs por inteiro. São projetos de gente e não conseguem conviver de forma adequada com o outro. Aliás, nem percebem que os outros existem…
Tão comuns quanto eu, são meus sonhos. Desejo ter o direito ao silêncio ambiente. Quero estar em meu lar ou nas ruas, sem sofrer sobressaltos por conta dos ruídos excessivos que povoam a cidade. Desejo caminhar à toa, entrar nos cinemas, nas igrejas, nos supermercados, nas farmácias ou mesmo me sentar no banco da praça sem temor. Sair e retornar. Cantarolar quando me der vontade, dar bom-dia a todos que passarem por mim, achar graça da própria vida e ninguém me considerar uma louca apenas porque sou feliz. Desejo viver em uma sociedade onde a obediência às leis seja normal e se compreenda que regras tornam a convivência mais harmônica.
Quero poder confiar no profissionalismo dos responsáveis pela segurança social. Quero o direito à justiça para todos que se sintam ultrajados por quem detesta a disciplina do dever. Quero poder observar a natureza da janela de meu quarto, o nascer do sol, as flores na praça cheia de graça. Quero ouvir o gorjeio dos pássaros e me encantar com a brincadeira dos beija-flores. A vida pede passagem na água límpida que corre nos rios e mares. Quero senti-la e compartilhá-la com todos! Não quero crianças aos pedaços nas ruas, mas por inteiro em escolas dignas, saudáveis e divertidas, em tempo integral. Quero respeito ao direito de acesso à saúde. Mais investimentos em pessoas e menos em construções! Um basta aos arrogantes que arrotam o poder, na tentativa de burlar seus deveres e hipertrofiar seus direitos! ´Você sabe com quem está falando?´ será uma pergunta fora de moda, à qual responderei: ´Sei sim! Com uma pessoa tão comum quanto eu, com os mesmos deveres e direitos´.
* Artigo publicado no Diário do Nordeste e reproduzido neste site com autorização da autora.
Celina Côrte Pinheiro
– Médica Ortopedista e Supervisora das Residências Médicas da Rede dos Hospitais do Estado, da Escola de Saúde Pública do Ceará
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