Observando o muro do Centro de Humanidades da Universidade Federal do Ceará, descobri uma inscrição contendo um pequeno trecho da música “Relicário”, de autoria do cantor e compositor Nando Reis: “O que está acontecendo? Existem tantos vasos e tão poucas flores….”
Assim, tal provocação metafórica me instigou a pensar sobre a aridez das relações humanas e dos conflitos de nossa vida em sociedade, em contraste com tantos avanços tecnológicos que, evidentemente, não conseguem contribuir para a florescência do espírito humano.
Nesse contexto, lembrei que cenas macabras (com acidentes, execuções perversas e tantas outras faces da violência) já fazem parte de um modismo midiático, tornando gerações inteiras insensíveis e passivas diante da banalização da vida e perante a dor de seus semelhantes. Então, avaliando esses contrastes, pude aquilatar com mais propriedade a ausência do belo em nossas relações e construções sociais.
Felizmente, ao refletir sobre soluções, lembrei que o universo transpira o intangível, que todo solo humano é potencialmente fértil e que ainda há muitos jardineiros irmanados no plantio de boas sementes, sob a inspiração do legado histórico de abnegados pacifistas. Alguns são como bem-te-vis que polinizam, adubos que fertilizam ou terra que sustenta, mas todos têm em comum o amor incondicional à vida. Para esses, nunca será estranho ouvir e falar palavras como amor, fidelidade gentileza, honra, humildade, altruísmo, generosidade e perdão.
Desse modo, ao dar foco em nossos valores e potencialidades, concluí que podia lançar um novo olhar sobre a pergunta inicial, respondendo-a com uma nova metáfora.
Por que ainda sobrevivemos? Porque mesmo poucas flores têm o mágico poder de embelezar um imenso jardim.
* Bernardo Antonio Aguiar Caetano é Major da Polícia Militar do Ceará – bernardoaguiar@ig.com.br