As demonstrações de carinho e simplicidade do papa Francisco em sua visita ao Brasil, naturalmente, nos levam a confirmar ser ele um homem iluminado e abençoado. Um enviado de Jesus Cristo para trocar a pompa da história do Catolicismo, pela simplicidade reinante desde o instante em que foi escolhido papa. É bom lembrar que, em suas palavras, exemplos e atos o papa Francisco manifesta conduzir uma Igreja simples por ser humana e gloriosa por ser a casa de Deus. Em pouco espaço de tempo o mundo acompanha suas mudanças radicais como aquela em que consegue destruir as velhas e arcaicas tradições aristocráticas do Vaticano, quer através de seu novo estilo de vida, como autoridade máxima da igreja católica, quer através da orientação ao clero e o enfrentamento aos “rituais” da poderosa Cúria Romana.


Por que será a insistência do papa Francisco em afirmar que Jesus estava sempre do lado dos pobres?


– Em cada ação e pregação o papa demonstra levar esta mensagem muito a sério firmando assim sua imagem de quem sabe ser pontífice popular, carismático e forte. Isso e muito mais tornam Francisco um papa cativante. Aqui no Brasil suas palavras e ações se intensificam na manutenção dessa fidelidade aos seus princípios e projetos provocando mais atenções e louvações que reações contrárias.


E por que o papa manteve sua presença na Jornada Mundial da Juventude? Quis ver e acompanhar a beleza dos jovens circulando serenamente, e mantendo o intercâmbio que une 175 países concentrados no Rio de Janeiro? Quer mostrar os meios para a continuidade de uma Nova Evangelização? Abrir novas pautas e notícias enriquecedoras ao trabalho jornalístico? Multiplicar esforços para tirar a igreja da contramão de sua essência?

 

Não só. Há também objetivos primorosos como o de reverter o quadro da relação juventude e igreja. Houve um recuo em três décadas. De 90% de seguidores, hoje são 64%, período em que os evangélicos avançaram de 6% para 22% e, outro dado surpreendente, 10% já se dizem sem religião definida. Há ainda a crise das vocações e a falta de uma fonte para o diálogo, compreensão e solução de questões como amor livre, casamento indissolúvel, aborto, casamento entre o mesmo sexo etc.

 

Contudo, esta geração se abre ao diálogo, pedindo e até exigindo que a igreja acompanhe as mudanças e se faça presente em suas vidas, ajudando a sedimentar ou ressuscitar valores nem sempre encontrados na escola e pior, sendo destruídos por uma sociedade materialista, faminta e direcionada ao vazio, desejosa inclusive do aniquilamento da família.


Nesse labirinto é bom ouvir o papa Francisco chegar ao Brasil e defender os jovens – falta de trabalho pode criar “geração perdida”. “Os jovens são os olhos do mundo… Cativante e cativados desde segunda-feira caminharam lado a lado, no Rio de Janeiro, abençoados pelo Cristo Redentor, rezando e seguindo, independente da intensidade da chuva e do sol, o reflexo do amor e da fidelidade cristã, com revelações de que a história da salvação que passa no plano humano, deve levar sempre o convite à transformação espiritual do homem, distanciando-se de uma prática política, muitas vezes violenta.

 

Assim os jovens reunidos, os religiosos, leigos e até simpatizantes podem conviver e mergulhar na visão correta do cristianismo fortalecendo a idéia de um Deus ético, crítico aos abusos do Poder e sensível à infelicidade dos aflitos existentes no mundo.

 

Unidos pela fé e pelo amor ao Deus de bondade os participantes da Jornada Mundial da Juventude estão atentos. Como diz dom Cláudio Hummes, ex-arcebispo de Fortaleza, “certamente o papa Francisco é um homem que vai fazer a Igreja caminhar para frente. Ele quer indicar para onde podemos nos esforçar para caminhar”.

 

Também o teólogo Leonardo Boff garante que “Francisco não se apresenta como um doutor mas como pastor. Coloca o mundo, os pobres, a proteção da Terra e o cuidado pela vida como as questões axiais. Prefere o diálogo entre as igrejas, também com as demais religiões no sentido de reforçar a paz mundial e o futuro da vida”. A música que os velhos romeiros cantam a caminho de Canindé onde vão pagar promessas e pedir graças diz “Salve oh! Francisco, cheio de amor, das chagas traz o Salvador”… pode ser a mesma música para completar a cantoria dos jovens, tal como nós, vivenciando novos ares, nova canção, novo alento e esperanças para velhos problemas e “abrigos destruídos” e reconhecidos pelo representante de Pedro. Aqui está um Francisco de alma franciscana. Jovem e agregador. Ele visita favelas. Cobra da classe política uma mudança de atitude.

 

Mantém encontros e diálogos e ainda vai abençoar 30 mil pessoas reunidas em um campo de futebol. Conversa com detentos e marginais, medita com os religiosos, incentivando-os e acolhendo-os como um pai carinhoso e compreensivo, lembrando ter chegado a hora (até com atraso) das mudanças e do exercício da catequese em favor dos pobres. Recepciona grupos de leigos, sem dúvida registrando sempre a vitalidade de uma Igreja que deve manter as portas abertas, imprimindo mais confiança que medo e renovando sua força evangelizadora.

 

Este é um mês de julho em que convivemos com um papa que trabalha duro por uma igreja mais simples. Corajoso e determinado, não teme as ruas brasileiras e espelha seu exemplo de humildade e dedicação aos que sofrem, associado ao desprezo por luxo, conforto e privilégios. É um Francisco que toca os corações e nos ensina a pedir ao Senhor que nos tornemos um instrumento de Sua paz, traduzindo essa voz Argentina, que também é chamamento e cobrança. Esse Francisco aquece corações e em seu último dia dessa trajetória verde-amarela ele celebrou missa em Copacabana, na Cidade Maravilhosa, sentindo o cheiro do mar, a luminosidade brasileira, o encanto de uma lua cheia e o entusiasmo de mais de dois milhões de pessoas de todos os credos, cores, linguagem e nacionalidades concentradas em seu diálogo multiplicador e alimentador.

 

Ouvirá a voz caliente dos jovens, ovelhas especiais de seu rebanho, protegidas e amadas, quem sabe prontas para acompanhar a ladainha dos dias: “Onde houver dúvida que eu leve a fé”.

Lêda Maria Feitosa Souto é jornalista do O POVO e escritora

Artigo publicado no jornal O Povo de 29 de julho de 2013 e reproduzido neste site com autorização da autora

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