O sofrimento é inevitável na vida, mas não significa apenas desconforto. Pode ser utilizado como força positiva para o desenvolvimento da personalidade. Uma vida sem dor, se tal fosse possível, seria apenas parte de uma vida, considerando que sofrimento e alegria são, quase sempre, correlatos, às vezes dependendo um do outro.
A dor emocional é produto do próprio homem. Não surge, como se pensa, das ações dos outros ou de acontecimentos infelizes. É resultado da reação, do valor ou da importância que se dá aos mesmos. Cada pessoa é diretamente responsável por seu próprio sofrimento.
Porém, há muito a se aprender com sofrimento. Há pessoas que condenam a ideia de sofrer e a consideram algo absolutamente negativo. Procuram fugir da realidade. Engolem, literalmente, inumerável quantidade de pílulas por dia, apelam para o álcool e para as drogas. Chegam até a fazer opção por um estado psicótico como fuga total dos aspectos dolorosos da realidade.
Desconhecem, no entanto, que a dor é uma força dinâmica que pode ajudar a alcançar a percepção. O processo de crescimento humano é, de alguma forma, resultado da dor. Não fosse a dor física não se saberia quando surgem às doenças. A morte seria aumentada consideravelmente. A dor, embora desagradável, é um alerta para o fato de que há falha no sistema, que exige atenção urgente.
O mesmo acontece com o sofrimento moral. Trata-se de uma ponte que permite alcançar o outro lado da existência, possibilitando alternativas que ajudam a vencer os obstáculos.
Existem, todavia, aqueles que permitem a si mesmos tornarem-se apáticos, afastando-se de todos, excluindo-se completamente do processo de interação humana. Optam pelo isolamento, mesmo que a solidão seja mais rigorosa do que a aceitação da doença e do processo de cura.
Por outro lado, aqueles que possuem coragem e determinação consideram o processo de sofrer como um mecanismo positivo capaz de mudar o rumo de suas vidas, como parte integral de seu desenvolvimento. Sabem que a dor não pode ser excluída da existência, mas sabem também utilizá-la como instrumento para lapidar suas almas, tornando-se exemplo de superação a tantos quantos vivem em estado parasitário de insatisfação e revolta.
* Artigo publicado em 05.11.2009 no jornal O Estado e reproduzido neste site com autorização do autor.
Edilson Santana
– Promotor de Justiça
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