É inegável a importância dos meios de comunicação na sociedade contemporânea. Rádios, jornais e televisão são capazes de convocar a população para refletir sobre determinados temas pertinentes, que muitas vezes não estão tão visíveis. É neste contexto que entram as questões relacionadas a violência sexual contra crianças e adolescentes, uma realidade tratada de forma “equivocada” e ainda raramente pela mídia até a década de 1990. Mas nos últimos tempos, é inegável a presença do tema nos veículos de comunicação em forma de matérias jornalísticas com mudanças significativas de discurso. 

Para essa mudança, foi necessária a pressão da sociedade civil organizada que, pode ser representada de forma emblemática pela Andi – Agência Nacional dos Direitos à Infância. Foi essa instituição que, dentre outras ações, criou o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo para as matérias relacionadas a violência sexual. Através da concessão de uma bolsa, a Andi incentiva o jornalista a estudar, pesquisar e escrever de uma maneira mais humana sobre o tema. Este ano, a equipe da Televisão Verdes Mares, formada por nós duas e mais o repórter Alessandro Torres, foi contemplada com o Prêmio.

Falar de violência é sempre dramático. Quando ela é sexual e ainda contra crianças e adolescentes indefesos, é cruel; quando o agressor é um parente ou alguém que usa relações de poder e de gênero para violentar, é ainda mais difícil. No momento em que nos propomos levar essas questões para a sala de estar dos telespectadores, temos que respirar fundo e ao mesmo tempo ter fôlego para traduzir a crueldade sem desmotivar, assustar ou afastar o olhar. O resultado está em seis reportagens veiculadas no Jornal do Meio Dia, da TV Verdes Mares, no período de 10 a 15 de novembro de 2008 e que estão à disposição do público no site www.verdesmares.com.br. As matérias serão levadas aos cursos de Comunicação Social para debates.

Nessas reportagens, procuramos lançar olhares para as instituições públicas. De que forma as delegacias, os IMLs e os conselhos tutelares estão preparados para ajudar na prevenção e no combate deste crime? No Ceará, nos deparamos com uma realidade preocupante. Segundo pesquisa feita exclusivamente para as reportagens em 65 municípios, 75% dos policiais nunca receberam um treinamento para lidar com criança e adolescente vítima de exploração sexual. 73% nem souberam responder quantos crimes desta natureza são atendidos por ano na sua instituição. Assim, fica o questionamento: como traçar políticas públicas para uma sociedade que desconhemos?

Diante desse cenário, procuramos também iniciativas que ajudaram meninos e meninas vítimas da exploração a reescreverem suas histórias de vida. Entre tantos relatos, encontramos uma adolescente que desenha o sonho de ser estilista. Ela é resultado de uma rede de proteção que funciona em algumas ONGs do interior do Ceará. Iniciativas ainda pontuais, mas que são capazes de devolver à vida a quem sofre com um crime tão cruel.

Para a nossa experiência profissional, o prêmio Tim Lopes incentivou a mudar de papel no dia-a-dia, a sairmos da rotina da redação para mergulharmos nos subterrâneos da violência sexual contra crianças e adolescentes e tratar sobre a questão sem a pressa factual.

Ana Quezado e Eulália Camurça
– Jornalistas do Núcleo da Rede Globo / TV Verdes Mares

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