Os monarcas absolutistas de todas as origens culturais e étnicas da civilização tinham a sua disposição uma prisão onde jogavam seus prisioneiros. Tinham o poder de mandar prender uma pessoa e deixá-la apodrecer indefinidamente no cárcere ou até que fosse executado sobre qualquer pretexto. Porém, graças a literatura, nenhuma ficou tão conhecida como a prisão que serviu aos reis absolutistas da França: a Bastilha. Ganhou tal projeção que sua invasão, em 1789 pela população, passou a significar o início da Revolução Francesa. Mais do que uma masmorra era o símbolo do absolutismo monárquico e por isso foi posta abaixo e incendiada. A simples menção de seu nome dava arrepios nos suspeitos. Sabiam que podiam entrar, mas ninguém sabia como iria sair. Se em um caixão ou inutilizado permanentemente pela tortura.


As prisões fétidas, escuras, muitas portadoras de grilhões, destinadas exclusivamente à prática da tortura como forma de obter confissão, tivessse ou não o preso alguma coisa para confessar. Algumas desinadas a manter fora de circulação pessoas indesejadas, que pudessem, de alguma forma, criar dificuldades para o governante. Eram instrumentos de poder e de governo. O Estado, representado pelo déspota, não era responsável nem pelas condições físicas dos encarcerados nem por sua sobrevivência. Tudo dependia única e exclusicamente da vontade de um único homem. As histórias são inúmeras. Algumas dessas prisões eram porões de navios que coportavam homens livres e escravos de toda orígem. Acabar com esse quadro dantesco passou a ser uma meta para o desenvolvimento da civilização, da democracia  e do respeito aos direitos humanos. O fim do discricionarismo e o advento do habeas corpus foram etapas importantes para a extinção desse instrumento de tortura.


Apesar das condições sub humanas que os tiranos impunham aos presos, nas bastilhas de antigamente não havia poder paralelo. Não se constituiam gangs que dominavam o presídio com a escolha pela força e pela corrupção de chefes. O Estado não permitia isso. É uma invenção dos tempos atuais. Criou-se nas atuais penitenciárias uma burocracia criminosa com líderes soberanos sob o olhar complacente do Estado. São úteis uma vez que mantém a população carcerária sob controle. São os que ditam quem vai morrer ou ser mantido nas hostes do líder da gang. Uns sobrevivem obtendo drogas, outros coseguindo celulares para as celas, outros permitindo que mulheres de suas famílias sejam estupradas para satisfazer a sanha dos líderes. Desobediência é punida com a asfixia, dégola, ou em uma briga simulada no pátio ou outro ambiente coletivo. As prisões atuais são exemplos que  é possível adicionar mais terror e falta de humanidade onde se acreditava que nada pior pudesse ser inventado. No mundo da internet, do genoma, da globalização, dos tênis de marca, dos rolezinhos nos shoppings a velha Bastilha parece um local de lazer.

Artigo publicado no blog do autor (noticias.r7.com/blogs/herodoto-barbeiro) e reproduzido neste site com sua autorização


* Hérodoto Barbeiro é escritor e jornalista da RecordNews e R7.com

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