Na luta que temos para a promoção da saúde e prevenção das doenças nas idades extremas da vida – infância e velhice – é que encontramos as barreiras mais complexas e desafiantes.
E, das idades extremas, a velhice no Brasil é a mais carente de ajuda e de suporte. No racional e cruel jogo das prioridades, simplesmente “elimina-se” o velho.
As barreiras psicossociais são graves e importantes na medida em que há uma profunda mudança no comportamento do próprio indivíduo ao atingir a velhice ao lado da clássica e criticável atitude de rejeição dos familiares, ainda comum em algumas sociedades do mundo. No Brasil estamos, felizmente, começando a melhorar.
A causa fundamental dessa mudança comportamental é o medo que muitos temos da velhice. Medo biológico da deficiência ou incapacidade funcional de todos os nossos órgãos vitais e da vida em relação ao meio exterior. Medo fisiológico da diminuição das motivações orgânicas, determinantes que são as mais preocupantes para os homens em geral. E há, também, o medo da ociosidade, da dependência, da segregação familiar e da sociedade. Chegar ao momento do “nada fazer” e do “nada poder fazer” é uma cruel antevisão do homem maduro no mundo moderno. Quando as taxas de desemprego atingem valores insuportáveis, essa situação agrava-se ainda mais.
As barreiras orgânicas, representadas pela patologia das células e dos órgãos envelhecidos são de enorme complexidade pelo pouco conhecimento que a ciência dispõe sobre as causas fisiopatológicas do processo de envelhecimento protoplasmático e, principalmente, sobre a sua morte.
Várias e graves doenças acontecem após os 50 anos de idade acometendo os sistemas cardio-vascular, endócrino, urinário, respiratório, digestivo, músculo-esquelético e metabolismo. Sem esquecer, naturalmente, o estigma do câncer que, inexoravelmente, aparece com maior freqüência à medida que avançamos nos anos. As ciências médicas não conseguiram ainda aquele progresso que desejávamos no tratamento dessas inúmeras doenças mas o progresso nessa década passada foi muito estimulante.
As barreiras funcionais ainda são muito complexas pois há uma grande inadequação gerencial na administração dos problemas dos indivíduos da terceira e quarta idades e a não utilização da Promoção da Saúde e dos devidos níveis de atenção da saúde da população.
O Censo Brasil 2010, iniciado este mês, será de enorme importância para comprovar o progresso de nossos idosos. E em 2020 estaremos aqui, novamente, para comentar as melhorias alcançadas. De acordo?
* Artigo publicado em 11.08.2010 no jornal O Povo e reproduzido neste site com autorização do autor.
Antero Coelho Neto é Médico e Professor – acoelho@secrel.com.br