Tem sido recorrente na internet, sobretudo nas redes sociais, os ataques preconceituosos de habitantes das regiões sul e sudeste do país à população e à cultura do nordeste brasileiro, em diversos episódios nos últimos anos e, mais recentemente, de modo mais grave nessa última eleição à presidência da República.


O tratamento discriminatório e repleto de ódio à população, seu modo de vida, à cultura e, finalmente, às opções políticas da maioria tem configurado caso grave de intolerância civil e atentado aos direitos humanos que merece a atenção da justiça brasileira.


Normalmente, os nordestinos procuram rebater informando aos preconceituosos sobre os grandes valores intelectuais e artísticos de origem nordestina que são patrimônio nacional. Citam as nossas belezas e, algumas vezes, ressaltam aspectos negativos dos brasileiros do centro-sul. Parece não ser suficiente, por exemplo, mostrar a esses agressores que o Nordeste deu ao Brasil escritores e intelectuais como José de Alencar, Aluízio de Azevedo, Joaquim Nabuco, Gilberto Freyre, Rui Barbosa, Clóvis Bevilaqua, Josué de Castro, Câmara Cascudo, Ferreira Gullar, Humberto de Campos, Rachel de Queiroz, Ariano Suassuna, Jorge Amado, Graciliano Ramos… Ou, cantores e compositores como Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira, Gonzaguinha, Elba Ramalho, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Morais Moreira, Raul Seixas, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Betânia… Acontece que essa atitude de responder a ataques, de certa forma vira uma queda de braços entre regiões que termina por legitimar as intolerâncias e preconceitos que recebemos.


É preciso, por um lado, que esse tipo de episódio sirva de motivo para a geração de mais informação, reflexão e debate nos diversos níveis educacionais e em toda a imprensa do país. Não tenho visto uma reação positiva da imprensa do sudeste e sul no sentido de combater esses comportamentos discriminatórios de seus conterrâneos. Aliás, alguns periódicos da “grande imprensa” do sudeste até reforçam ideias que alimentam esses preconceitos.


Por outro lado, cabe também à população nordestina e suas instituições educacionais e culturais desenvolver ações, sem ufanismos, no sentido do seu autoconhecimento histórico-cultural e do seu lugar na história do Brasil. E assim, talvez isso nos sirva para todos aprendermos mais sobre política, direitos, democracia, autoritarismo, desigualdades regionais, diversidade cultural e projetos de nação.


Marcos José Diniz Silva – historiador e professor da UECE

Artigo publicado no jornal O Povo e reproduzido neste site com autorização do autor

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