Estamos na iminência de ter à disposição uma ligação telefônica via what´s app que vai por a knock down parte do faturamento da empresas de telefonia celular. Com isso a tarifa no Brasil, que é muito alta, vai cair. Vem aí  um aplicativo que, com delay de alguns segundos, vai traduzir o som de um idioma para outro, os que traduzem textos já existem. Isto significa que a Torre de Babel vai acabar de uma vez, vai se transformar apenas em um mito religioso. A língua não vai mais ser uma barreira para que as pessoas se conheçam melhor e possam falar de suas esperanças e dificuldades. Nada poderá impedir essa aproximação, nem mesmo os fundamentalistas que possam crer que tudo não passa da obra de um gênio demoníaco e por isso precisa ser destruído e se possível decapitado. Apesar do reacionarismo de alguns, a atitude refratária de outros, o torcer de nariz de muitos, a tecnologia avança. A comunicação pessoal se aprimora como nunca na história da humanidade  e não será mais necessário o esforço de um Champollion para se entender o que outro povo escreveu. Este é o verdadeiro mundo novo e ninguém vai depender mais de dicionários ou tradutores para saber o que o seu interlocutor está dizendo. É a liberdade total, até mesmo dos meios de comunicação tradicionais. Isto pode alterar profundamente o relacionamento entre culturas e civilizações distintas.


 


Os grandes grupos tradicionais de comunicação foram corroídos pela nova tecnologia. Não resistiram ao impacto da adesão dos cidadãos e consumidores `as nova mídias.  Não conseguiram colocar as redes sociais a serviço da sobrevivência de monopólios ou cartéis. Por isso perdem espaço, ao mesmo tempo que o cidadão ganha condições de ser protagonista na difusão de informações e noticias. É verdade que novos conglomerados se formam em âmbito global, mas são qualitativamente diferentes do que se viu até o início do Século 21. São também ofertantes de programas que apesar de um ou outro deslize nas traduções, e são ainda muito utilizados,  tendem a sumir no futuro. Os tradutores humanos, que foram às escolas e se prepararam para as traduzir palestras, encontros governamentais, aulas   estão também com os dias contados como tantas outras profissões. A tecnologia acelerada desta época não perdoa nem atividades profissionais nem empresas gigantes  como a Kodak, Polaroid, Fuji Filmes e tantas outras que não resistiram aos avanços da quebra de paradigmas. Vai para o folclore mancadas dadas por tradutores. A BBC conta que em um visita do presidente americano, Jimmy Carter, a Polônia, uma série delas ocorreram. Conta-se que traduziram uma fala como se  o presidente gostaria de conhecer os poloneses carnalmente, que ele tinha deixado os Estados Unidos para sempre e ou que estava contente por ter agarrado as partes privadas da Polônia. Obviamente que tudo isso  virou piada.


 


Antes que os tradutores fiquem bravos comigo, devo dizer que nós jornalistas erramos muito mais. O mundo científico vai correr menos riscos se os cientistas se entenderem sem tradutor. O astrônomo Schiaparelli, estudou profundamente Marte e identificou partes claras e escuras que nomeou de mares e continentes. As mais estreitas chamou de canali. Estes foram traduzidos por canais e logo se difundiu que uma civilização inteligente tinha construído canais de irrigação. Nas escolas se ensinava Marte era o planeta dos canais donde se imaginava a agricultura, a pecuária, enfim uma civilização hidráulica, como as que existiram na margem dos rios Nilo, Eufrates, Indos, Amarelo e Ganges, Daí para a ficção científica foi um passo. Os autores inflaram a imaginação com personagens verdes, discos voadores, invasão da Terra e a Guerra dos Mundos. Orson Welles quase matou muita gente do coração quando narrou no rádio a invasão do planeta e muita gente achou que era verdade. Para evitar novos desentendimentos a ciência recorre a nomes gregos e latinos. Ainda assim, há confusão, uma vez que canalis é uma palavra latina. Os encontros científicos, os conference call, as consultas de voz via internet entre hospitais, centros de pesquisas e universidades vão ser corriqueiras. Um fala no seu idioma e o outro ouve no seu. O desenrolar de tudo isso é tão grande e instigante, que como dizia minha avó Amábile, dá um nó nas tripas.


 


* Heródoto Barbeiro – é escritor e jornalista da RecordNews e R7.com – herodoto@r7.com


 


*Artigo publicado no blog do autor (noticias.r7.com/blogs/herodoto-barbeiro) e reproduzido com sua autorização


 


 

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