Depois da tempestade, não restará pedra sobre pedra. O capitalismo não será o mesmo após a crise financeira que está torrando rios de dinheiro nas bolsas de valores, todos os dias.

A bolsa até que não é má idéia. Em princípio, serve para colocar, de um lado do balcão, aquele que possui a grana; do outro lado, o que a procura para financiar determinado negócio. Mas o sistema gerou um mostro. A bolsa perverteu-se. Tornou-se trottoir de especuladores e aventureiros que nada produzem. E fragilizou-se. Ficou vulnerável a qualquer incidente no mercado, conquistando inacreditável poder de afetar a vida das pessoas. Mr. Robert deixa de quitar a hipoteca da casa, lá no Wyoming, e “Seu” Chico começa a pagar mais caro pelo litro do leite em Quixeramobim.

Perverso e até surrealista, o chamado capitalismo financeiro do tipo anglo-saxão levou a humanidade a conviver, de um lado, com uma indecente concentração de riquezas e, do outro, com o agravamento da miséria. A crise financeira atual há de operar mudanças drásticas nas regras desse jogo.

Em primeiro lugar, os banqueiros terão que reduzir seus lucros estratosféricos. As regras clássicas sugerem aos bancos guardar um dólar de capital para cada 12 dólares de crédito. Ultimamente, o circo vinha permitindo a seus atores distribuir 32 dólares de crédito para apenas um dólar enfiado sob o travesseiro da instituição. Daí a farra, a gastança desbragada. Daí a cratera no sistema financeiro, quando um elo da corrente se partiu. Daí o Governo norte-americano ter que injetar bilhões de dólares em Wall Street para evitar o caos absoluto.

Doravante, vai-se priorizar mais a segurança que o risco. Se a crise foi resultado do excesso de liberalismo, do deslumbramento ante o laissez-faire, o que se supõe é que, agora, haverá mais controle por parte do Estado. A auto-regulação não funcionou? Então, alguém vai ter que ditar normas severas. E fazê-las cumprir.

Não será o fim do capitalismo. Mas, que chegou perto, chegou.

*Artigo publicado no Jornal O Povo em 10/10/2008 e reproduzido neste site com autorização do autor

Roberto Crema
– psicólogo e antropólogo. Terapeuta e coordenador do Colégio Internacional dos Terapeutas e vice-reitor da Unipaz.
robertocrema@terra.com.br

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here