Lendo um trecho das cartas de J.R.R Tolkien que contem a narrativa pós Senhor do Anéis – o retorno do rei, algo me chamou a atenção: “…visto que estamos lidando com Homens, é inevitável que devemos preocupar-nos com a característica mais lamentável de sua natureza: sua rápida saciedade com o bem. De modo que o povo de Gondor, em tempos de paz, justiça e prosperidade, ficaria descontente e inquieto — enquanto os monarcas descendentes de Aragorn tornar-se-iam apenas reis e governadores — como Denethor ou pior.”


Quem assistiu e leu os livros sabe a que se refere a citação de cada personagem, mas detenho-me na expressão: “é inevitável que devemos preocupar-nos com a característica mais lamentável de sua natureza (do homem): sua rápida saciedade com o bem.”


Vivemos atualmente uma cultura que está, infelizmente, nos arrastando para este nefasto status de profunda insatisfação, murmuração e avidez por novas experiências por vezes negativas, que sobrepõem inclusive o bem. Delimitando minha reflexão ao campo da comunicação de mídia, cito Bento XVI que fez uma duríssima colocação a respeito, dizendo: “Trata-se de “uma cultura que não busca o bem, já que o moralismo em realidade é uma máscara para confundir, para criar confusão e destruição. A esta cultura, na qual a mentira se apresenta como verdade e informação, a esta cultura que busca só o bem-estar material e nega a Deus, nós dizemos ‘não”.


Quantas vezes não buscamos com rápida e pertinente atenção, as más notícias, as contendas, as “great news” dos mais sórdidos assuntos, pois ficamos tíbios, descontentes e insatisfeitos com a quietude, paz e bem que, longe de serem comodismo, são na realidade frutos de grandes batalhas pela verdade.


Buscamos, buscamos e buscamos. Temos em nossos sentidos um “Bad Search Engine” que alimenta nossa insaciável sede e fome de notoriedade. Pecamos pela “gula midiática” e podemos findar com uma indigestão maléfica da alma, pois não sabemos lidar com todas as ansiedades, as contradições e a criatividade própria deste contexto. Lembrando que nisso não reside o descaso ou omissão diante da verdade dos fatos que necessariamente devem ser anunciados e denunciados.


Não descuidemos de uma autêntica comunicação! Comuniquemos a verdade com coragem, oportuna e inoportunamente, mas deixemo-nos saciar pelo bem e de modo especial no silêncio, pois Bento XVI nos ensina que: “O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras densas de conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro, discernimos como exprimir-nos.”


Fabiano Faria de Medeiros – Blogueiro

Blog: fabianomartatobias.com.br

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