Tirar a vida de uma pessoa é matar toda a humanidade. Essa afirmação está contida na doutrina das grandes religiões do mundo atual. A prática de genocídio, do assassinato de inocentes não cabe em nenhum ideário religioso. Ainda assim, há quem ignore tudo isso e derrube aviões, explode templos religiosos, ataca turistas nos restaurantes e café, e impede grandes comemorações como nos campos de esporte. Essas barbaridades são condenadas por islamitas, cristãos, judeus, hinduístas e outras religiões. Ainda assim fanáticos se apegam a textos muito antigos, quando a religião estava associada à guerra para justificar os seus atos.


A política do crê ou morre se desenvolveu na idade média. A expansão do Islão e as Cruzadas foram exemplos disso. A conquista de Canaã pelos judeus também se deu por guerras e destruição dos habitantes locais. O mesmo fizeram as civilizações hindus quando se impuseram aos habitantes primitivos da Índia. No entanto não é possível ressuscitar textos escritos em outros contextos históricos e querer aplicá-los no Século 21. A humanidade avançou no caminho da democracia, da liberdade de expressão, do estado  laico, do respeito à privacidade e da escolha de crenças.


Somente a História pode recuperar o passado. Este é tomado como lição para que os mesmos erros não sejam cometidos no presente. A civilização islâmica atingiu o seu auge de desenvolvimento quando a capital do império foi levada para Bagdá, hoje no Iraque. As deliciosas e sensuais histórias das Mil e Um Noites se referem a uma sociedade pacífica, governada por um sábio, que saia do palácio disfarçado para ouvir o que os súditos diziam do seu governo. (Imagine isso hoje em dia) O califa era o chefe político e religioso e entre suas características estavam a tolerância, a capacidade de perdoar os seus inimigos e defender os princípios proclamados pelo profeta. Bagdá  e Shiraz, na antiga Pérsia, eram o centro da gravidade do império. O Islão possuía a hegemonia econômica do mundo, apenas fracamente contestada pelo império cristão de Bizâncio, atual Istambul.


A Europa se afastou do esplendor do mundo muçulmano  e partiu para um isolamento que consolidou o feudalismo. Na Espanha, o califado de Córdoba, se tornou o principal núcleo da civilização no Mediterrâneo. Um estado bem estruturado, onde os funcionários eram recrutados entre os melhores, acima de suas origens étnicas.


A moeda de Bagdá era o dólar da época. Era aceita por todos, da Espanha aos confins da Ásia. Em Alexandria havia uma mesquita com espaço para que cristão e judeus pudessem rezar sob o mesmo teto. As comunidades cristãs continuavam a eleger seus bispos e magistrados. Os judeus eram os agentes prósperos do comércio internacional. A tolerância islâmica salvou o patrimônio do pensamento antigo. O direito, a filosofia e as ciências da Grécia e Roma foram preservadas e serviram de base para novas pesquisas. O árabe se tornou o idioma universal. Criadas pelo modelo das universidades de Alexandria e Atenas, as universidades muçulmanas vivificaram durante três séculos.


A tradição da ciência alexandrina, do aristotelismo e do neo platonismo, como no período helenístico, se tornou cosmopolita.Poetas, filósofos, sábios, químicos, geômetras, músicos, médicos, tradutores e outros intelectuais eram recebidos pelos chefes locais e incentivados a prosseguir na sua profissão. É verdade que o império árabe-islâmico não resistiu ao seu próprio crescimento. A descentralização em diversos califados contribuiu para o enfraquecimento militar e o domínio de outros povos. Qual dos exemplos ajudaria a melhorar o mundo atual? Pergunte aos terroristas do estado islâmico.   


Heródoto Barbeiro é escritor e jornalista da RecordNews e R7.com – herodoto@r7.com

*Artigo publicado no blog do autor (noticias.r7.com/blogs/herodoto-barbeiro) e reproduzido com sua autorização

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