Poucas vezes na história a velha mídia conservadora, venal e golpista brasileira dedicou tanto espaço e tempo como nas duas últimas semanas. Eram chamadas a cada intervalo de programa em todas as emissoras de televisão, em especial na Globo e na Record. Cada uma das emissoras de TV procurava agradar da melhor forma possível ao Império do Norte.

Até mesmo a televisão pública brasileira entrou nesse jogo para retratar da melhor maneira possível os lamentáveis ataques terroristas do 11 de setembro de 2001, quando o símbolo do capitalismo, representado pelas torres gêmeas do World Trade Center, foi destruído em menos de uma hora após dois aviões comerciais seqüestrados terem se chocado com elas.

Cada emissora de TV buscou imagens inéditas e entrevistas exclusivas com sobreviventes e familiares dos mortos para chamar mais a atenção do telespectador. As imagens do desespero, notadamente de pessoas que se jogavam do alto para a morte em terra, chocavam a toda pessoa de bem. Jornais dedicaram cadernos especiais sobre o que chamam de maior atentado terrorista da história. Afinal, foram quase três mil pessoas mortas, de várias nacionalidades, inclusive três brasileiras, pessoas inocentes que nada tinham a ver com a política imperial do Tio Sam causando a morte, sofrimento e dor em todo o mundo.

Esses mesmos veículos – rádio, jornal, revista e televisão – não dedicaram um milímetro sequer de espaço na mídia impressa e um segundo do tempo no rádio e televisão a outro ato terrorista, esse de maior proporção, que foi praticado também em uma terça-feira 11 de setembro. Só que 38 anos antes, aqui no nosso subcontinente, ou seja, no Chile. Naquele 11 de setembro de 1973 toda uma nação foi atingida diretamente pelo ato de terror praticado pelo imperialismo norte-americano que corrompeu militares chilenos para derrubar o governo socialista e assassinar o seu presidente Salvador Allende.

Em Santiago do Chile o terrorismo foi muito mais violento que em Nova Iorque, já que mais de 30 mil pessoas foram presas, seqüestradas e levadas para o principal estádio de futebol, único local fechado que tinha condições de recebê-las. Trinta mil foram mortas.

Com a supervisão direta do secretário de estado norte-americano, Henry Kissinger, o general Augusto Pinochet assumiu o bombardeio do Palácio La Moneda – sede do governo chileno – e a partir de então instaurou o terrorismo de Estado no país, fechando o congresso nacional, cassando mandatos e direitos políticos, suspendendo os direitos individuais e instituindo a tortura como método de interrogatório.

Os métodos de tortura –  aprendidos na Escola das Américas, no Panamá, centro norte-americano de ensino da teoria e prática de  tortura – eram terríveis, indo do choque elétrico nos órgãos genitais, do afogamento e do pau-de-arara até a colocação d rato na vagina das mulheres e de cachorros treinados para estuprar as prisioneiras.

A exemplo do que ocorreu aqui no Brasil, quando os militares golpistas quebraram todos os ossos do dirigente comunista Carlos Danielli e de vários outros que resistiram à ditadura militar implantada em 1° de abril de 1964, também com total e irrestrito apoio ianque – desde o financiamento até a cooptação por suborno de oficiais do Exército, Marinha e Aeronáutica – no Chile aconteceu o mesmo. A maioria dos 30 mil chilenos foi morta sob as mais cruéis torturas, e dezenas de milhares que escaparam com vida ainda hoje amargam as seqüelas deixadas por seus algozes.

E o que dizer dos 250 mil civis mortos em conflitos globais patrocinados pelo imperialismo ianque; dos mais de um milhão de crianças, mulheres e idosos no Iraque e no Afeganistão; dos 255 jornalistas mortos e nos mais de US$ 4 trilhões gastos após o 11 de setembro de 2001 para satisfazer à indústria bélica e propiciar o roubo do petróleo e gás daqueles países?

Por que também essa velha mídia não dedica um pouco de espaço e tempo para o terrorismo praticado pelos nazicionistas israelenses contra os palestinos com o irrestrito apoio ianque? Quantas dezenas de milhares de palestinos foram mortos nos últimos anos e a eles lhes é negado o direito a uma pátria?

O que o imperialismo – em especial o norte-americano – faz na Líbia se não terrorismo puro sob o argumento de defender a população civil do ditador Muammar Kadaffi? Se é para defender a democracia, por que não faz o mesmo com a Arábia Saudita?

O atentado terrorista de 11 de setembro de 1973 merecia muito mais espaço, mas pelo menos o mesmo espaço e tempo já estaria de bom tamanho. Porém esse pedaço da História está sendo riscado para que as novas gerações dele não tome conhecimento de tamanha brutalidade e se atenha somente ao 11 de setembro de2001. A moeda dessa gente só tem um lado.  Quanta hipocrisia!

Messias Pontes é Jornalista – messiaspontes@gmail.com

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