Nelson Mandela veio à Terra com a missão de ajudar a humanidade em sua jornada evolutiva. Em quase 30 anos de prisão, pôde se autoconhecer, amansar seu espírito guerrilheiro e promover, aos 70 anos de idade, reformas inimagináveis em um país que esteve à beira de uma guerra civil motivada pelo racismo. Não guardou ódio nem rancor. Perdoou os opressores e afirmou: “Se as pessoas aprenderam a odiar, podem ser ensinadas a amar”. É a pedagogia do amor em ação. Uma força poderosa. Revolucionária!


Mas sua formação teve revezes. No início, defendia a luta pacífica contra o apartheid, sistema de segregação racial que vigorava na África do Sul. Mudou de opinião, quando, em 21 de março de 1960, policiais brancos atiraram contra manifestantes negros, matando 69 deles. O episódio fez com que ele passasse a defender o uso de armas contra o sistema. Em 1961, tornou-se comandante do Congresso Nacional Africano (CNA). Poucos anos depois, foi condenado a prisão perpétua por planejar ações armadas. Sua natureza pacifista se consolidou, após profunda reflexão no cárcere.


Libertado, por pressões internacionais, Mandela fez seu primeiro discurso, em um estádio lotado, onde a maioria das pessoas portava arma de fogo, facas e facões, prontas para o revide contra os defensores do apartheid. Mandela pronuncia: “Meus irmãos e irmãs, povo da África; eu não vos falo aqui como um profeta, mas como um servidor de todos vocês. Depois de 27 anos eu vos digo que continuo pronto para morrer por nossa causa”. A multidão gritava e aplaudia. Ele esperou o silêncio e acrescentou: “Mas jamais para matar por ela. Peço a todos os negros que estão armados aqui neste estádio que apanhem suas armas e as joguem no mar”.


Em 1994, Mandela tornou-se o primeiro presidente negro da África do Sul. Governou até 1999 pondo fim à injustiça do apartheid. Entretanto, ele caiu em uma armadilha: embarcou no materialismo radical de partidos que o apoiavam e acabou permitindo que uma outra injustiça se instalasse em seu país: a legalização do aborto. Eis aí um paradoxo na vida daquele que se doou “de corpo e alma” para que seu povo fosse libertado da brutal segregação racial.


Não pode haver segregação maior que eliminar a vida de um ser humano ainda no ventre de sua mãe. No aborto, vidas que estão unidas são, violentamente, separadas. É o maior de todos os “apartheids”.


Importante, assim, evitarmos “endeusamentos”. Até porque o próprio Mandela nem gostava que o santificassem. Tanto é que afirmou certa vez: “Não se esqueça que santos são pecadores que continuam tentando”. Mesmo assim, a marca que ele deixa é a de um dos maiores pacifistas dos séculos XX e XXI. Sua atuação fez com que a ONU declarasse 18 de julho o Dia Internacional Nelson Mandela, lembrado na música “Mandela Day”, do grupo escocês Simple Minds.

Luís Eduardo Girão é Diretor da Agência da Boa Notícia e da Estação – legirao@hotmail.com


Artigo publicado no jornal O Povo de 15.12.2013

 

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