Num dos cantões da Suíça, no início do século 20, após acordo com a mídia para não mais divulgar os alarmantes casos de suicídio – pois notou-se que a cada divulgação os casos aumentavam consideravelmente -, houve redução de 90% nos índices desse hediondo crime contra a vida e uma pergunta ficou no ar: quem da mídia estaria disposto a se responsabilizar pelos suicídios cometidos antes do acordo? Até hoje não houve resposta.
Há provas materiais e empíricas de que o que se ler, ouvir e assistir pode influenciar no estado emocional e mental do sujeito e de toda a sociedade. O livro Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe, o gigante do Romantismo, foi na época proibido em diversos países devido ao assustador número de suicídios que vinha causando entre os seus inúmeros leitores. Talvez Goethe nem imaginasse que a sua obra causaria tanto desequilíbrio. A música Domingo solitário foi vetada em parte da Europa por indiretamente levar os ouvintes a estados melancólicos e depressivos e não raramente ao suicídio. As letras das músicas compostas pelo vocalista e genial Renato Russo são inigualáveis e admiráveis, mas ele cantarolava somente em estado de melancolia e depressão e, sem saber, seus intermináveis admiradores acabavam e acabam “absorvendo” o sofrimento dele e ficavam e ficam melancólicos e depressivos com a tragédia alheia.
Na psicanálise, o nome deste fenômeno é contratransferência, ou seja, quando o sujeito vivencia o sofrimento do outro; no caso em tela, a depressão e a melancolia. A imprensa vem se notabilizando na superexposição de fatos pejorativos e deprimentes, tais como a glorificação da violência urbana e o sensacionalismo dos telejornais. A fissura pelo “furo” e o faturamento desobedece à regra do bom-senso e da higidez mental. O ouvir, ler e ver devem ser qualificados, pois quem não observar essa regra de ouro é forte candidato a ter transtornos emocionais. Alguns programas televisivos e antiéticos poderiam ser comparados à tortura mental e ao terrorismo, pois além das malfadadas imagens, seus apresentadores gritam sem necessidade, numa auto-denúncia de desequilíbrio.
A imprensa, sem saber, contribui para produzir uma sociedade ansiosa, melancólica e depressiva, pois os fatos são superdimensionados e as exibições repetitivas nos noticiosos são por demais maléficas para a mente humana. Não é por acaso que os ansiolíticos e antidepressivos lideram o ranking das vendas da bilionária, obscura e cruel indústria farmacêutica. Frisem-se, estes remédios não curam, apenas “controlam” os efeitos; mas isto, que é grave, não é pauta de notícia na mídia.
Postado em 3 de novembro de 2009 por Cláudio Azevedo e reproduzido neste site com autorização do autor.