Contra o Aborto é um livro polêmico e relevante escrito pelo professor e filósofo Francisco Razzo. O autor se propõe a fazer uma análise do aborto por uma perspectiva filosófica, com o intuito de encontrar um lugar comum que fundamente uma discussão e transcenda o campo das opiniões, onde estamos afundados.

O que mais escutamos atualmente é que devemos debater sobre o aborto. Mas será mesmo que as pessoas que dizem isso realmente estão querendo debate? Segundo o autor, não é tão simples assim, e que a palavra “debate” geralmente é usada como um eufemismo, não é nada mais do que uma propaganda em defesa do aborto. Este livro é para quem realmente está interessado no debate.
Todo debate, por mais polêmico que seja precisa preservar as regras básicas da argumentação. Não vence um debate quem convence a maioria por meio de apelos emotivos e retóricos. Devido a isso, o autor se preocupa em explorar a lógica formal e informal, sobre a natureza das induções e deduções, ou seja, a arte do pensamento válido. Também abordando a natureza da democracia e sobre o conceito principal para esse debate, a pessoalidade.

O que é ser uma pessoa? Ser um Homo sapiens é o mesmo que ser uma pessoa, esses são conceitos de mesma categoria? O que é que confere pessoalidade? É possível existir pessoas não humanas? Um embrião possui esse status de pessoalidade ou não?

Ainda explicando a importância da dimensão antropológica para o debate, que é atualmente quase nula, o autor explora a limitação das abordagens fisicalistas, mostrando a diferença categórica entre o conceito antropológico de “pessoa”, do conceito biológico de espécie “Homo sapiens”:

Razzo expõe os principais argumentos pró-aborto e declara a fragilidade deles, montando sua própria argumentação. Ele defende e trabalha sobre o preceito de que todo embrião, é uma pessoa desde o momento da concepção, e não somente um “amontoado de células”, tendo assim o direito de proteção a vida. O autor traz uma inversão do pensamento comum:
“O embrião não deve ser considerado uma pessoa somente a partir do momento em que se desenvolve o sistema nervoso central capaz de consciência e racionalidade. E sim por ele já ser uma pessoa que se desenvolverá o sistema nervoso central capaz de consciência e racionalidade. O ser humano não é pessoa por ser consciente e racional, mas será consciente e racional por ser pessoa.” (RAZZO, 2017, p. 63)

Tal inversão é possível graças sua abordagem não materialista/fisicalista, ou seja, a pessoalidade não está atrelada a alguma sensação (como a capacidade de sentir dor), nem a qualquer dependência de estrutura (como o arranjo complexo de células neuronais).

É um ótimo livro para as pessoas que são favoráveis ao aborto, para que possam analisar suas falhas e refinar seus argumentos (ou abandoná-los), tanto para quem é contra, para que possam meditar com mais veemência e ter um embasamento mais profundo de suas ideias. Quem não sabe o que pensar sobre o assunto, esse livro é um ótimo começo para refletir.

Kaíque Jeordhanne
Artigo publicado originalmente em medium.com

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