Nos últimos três anos, jovens de vários bairros da periferia de Fortaleza encontraram um novo meio de relatar e debater suas histórias individuais e coletivas. Através do teatro espontâneo, uma vertente do psicodrama criada pelo psiquiatra de origem judaica Jacob Levy Moreno (1889-1974), meninos e meninas discutem ainda temas presentes no seu cotidiano como sexualidade, DST, bullying e atuação política. A iniciativa é do Projeto Nossas Histórias, no Nordeste pelo Fundo Juntos pela Educação, como parte do Programa pela Educação Integral.


Segundo a coordenadora do projeto, Pérola Queiroz, o psicodrama e o teatro espontâneo promovem o encontro, a conexão entre as pessoas dispostas a conversar. “E o teatro é propagador de boas novas, sendo um espaço ideal para os jovens falarem sobre suas vidas”, destaca Pérola.

Projeto em parceria

Para desenvolver a iniciativa educacional, o “Nossas Histórias” contou com a parceria do Tear Comunitário, Escola de Ensino Fundamental e Médio Paróquia da Paz,  Centro de Referência e Assistência Social (CRAS) do Mucuripe e  Secretaria de Cultura de Fortaleza. Outras escolas também se tornaram parceiras ao longo do projeto, como a E.E.F.M “General Murilo Borges Moreira”, de Mucuripe, e a Escola Integrada Dois de Maio, do Jardim União.


A partir daí, jovens dessas escolas que participaram das oficinas criaram a Trupe Cena Aberta, que passou a se apresentar em vários espaços públicos, como as próprias escolas e o Centro Cultural Dragão do Mar.

“Decifra-me que aprendo”


A trajetória do projeto foi registrada no livro “Decifra-me que aprendo – A escola e nossas histórias”. O livro reúne depoimentos de jovens que passaram pelas oficinas e, alguns, pela Trupe Cena Aberta. A publicação foi dividida no formato de planos de aula. Dessa forma, escolas interessadas podem usar a ferramenta do teatro espontâneo como instrumento pedagógico para discutir vários temas relevantes para jovens e adolescentes.


A primeira parte da obra é dedicada a explicar a metodologia e os recursos do teatro espontâneo como ferramenta para a promoção da educação integral. “O teatro permite a convergência de linguagens, a música, a dança, a literatura, a expressão, entre outras, fundamentais para o desenvolvimento humano”, assinala Pérola Queiroz.


Na segunda parte estão reunidos os depoimentos de jovens que participaram das oficinas de teatro espontâneo e de concurso literário realizado na EEFM Paróquia da Paz. São relatos de dor, de tristeza, mas também de homenagens (sobretudo à figura materna), de esperança e das transformações que são possíveis e acontecem todo dia, levando a novos projetos de vida, a novos horizontes individuais e coletivos.


“A impressão que se tinha era de gratidão daqueles alunos por serem ouvidos. E os professores puderam compreender, a cada leitura dessas histórias existenciais, a realidade de seus alunos, ganhando com isso caminhos de aproximação entre eles”, destaca a diretora da escola na época, Najla Hissa. “Com esse acesso ao mundo de cada um, foi possível construir atividades contextualizadas, tornando a educação viva, verdadeira, existencial”, ela complementa.


A terceira parte do livro reúne 21 planos de aula, que podem ser replicados em qualquer escola, elaborados a partir dos relatos dos jovens e da metodologia desenvolvida nas oficinas de teatro espontâneo. Os planos de aula tratam de temas gerais do cotidiano de crianças e adolescentes, como desigualdade, sexualidade, questões de gênero, trabalho infantil e violência, entre outros. Cada plano de aula contém objetivo, duração prevista, recursos e estratégias que podem ser empregados, pontos de discussão, ferramenta de avaliação e bibliografia, para completar o conteúdo.


O Projeto Nossas Histórias alcançou reconhecimento nacional, tendo sido semifinalista do Prêmio Itaú-Unicef deste ano. O Fundo Juntos pela Educação foi constituído em 2004 pelo Instituto Arcor Brasil, Instituto C&A e Vitae. O Programa pela Educação Integral, que cumpriu uma trajetória de oito anos, foi a primeira iniciativa do Fundo. O propósito foi apoiar projetos de desenvolvimento integral, com a perspectiva da educação, de crianças e adolescentes de territórios de vulnerabilidade

Mudança pessoal


Os jovens que participaram do projeto ressaltam a mudança pessoal após o envolvimento teatro. “Eu era muito tímida e o teatro ajudou a me expressar muito melhor”, diz Stefani Ferreira, de 15 anos, aluna da Escola Dois de Maio. “Nós aprendemos muito nas viagens que fizemos para apresentações, como em Maranguape”, conta Juan Silva, de 15 anos, aluno da  E.E.F.M “General Murilo Borges Moreira”.


Com informações do Instituto Arcor e do Fundo Juntos Pela Educação


Crédito da foto: site www.juntospelaeducacao.com.br

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