Cresci e me criei ouvindo esta frase de meus pais, familiares e de quase todos os amigos. Homem é homem! Não chora!
São milhares de referências em livros, artigos, pesquisas, músicas, etc. Na linda canção do guitarrista Roberto Frejaj ele canta: “Homem não chora, nem por dor, nem por amor. Homem não chora, nem por ter, nem por perder”
Pobres de nós, que tivemos de pagar um preço altíssimo por isso. Muitos machos morreram, sofreram, padeceram ou perderam ricos e lindos momentos da vida. Foram enganados, mortos e sacrificados em nome dessa “diferença fundamental” com a “pobrezinha” da mulher que realmente dirige e comanda a casa e os filhos fazendo de conta que está seguindo as “ordens” do marido, o grande chefão.
É interessante destacar que as mulheres Celtas, por razões locais específicas, nunca permitiram essa desigualdade e sempre foram as reais comandantes da vida familiar. E lá os homens estão felizes da vida, chorando e vivendo mais.
Claro que temos melhorado muito nesses últimos anos em relação às desigualdades entre os homens e mulheres, mas necessitamos, principalmente em certas regiões do país, melhorar muito mais. Ou “piorar muito mais” como diriam alguns machos?
Mas as brasileiras continuam vivendo mais do que os homens em valores muito acima de inúmeros países do globo. São 8 anos mais. E isto pela prática das mulheres de muitos elementos reconhecidamente de valor na nossa longevidade: maior sociabilidade participando de grupos de convivência e de amigas, dançando e cantando; religiosas e praticando muito mais a espiritualidade; amando com freqüência e habilidade; realizando mais atividade física; trabalhando muito (realizando atividades que lhes dão prazer); bebendo e fumando menos do que os homens. E chorando, sem fragilidade ou vergonha de mostrar para todos sua tristeza ou também alegria.
Comigo aconteceu uma transformação que jamais imaginava: passei a desenvolver vários dessas qualidades ditas femininas e hoje choro com facilidade, me sentindo muito melhor. Aprendi, trabalhando como médico na promoção da saúde e da qualidade de vida relacionada com a saúde e maior longevidade. E foi com as mulheres idosas, principalmente, que aprendi muitas coisas boas da vida humana.. Elas abriram para mim um horizonte diferente e melhor. Por isso, quando dou entrevistas na mídia, palestras nas organizações públicas e privadas ou em cursos de Faculdades, brincando eu afirmo, “Estou cada vez mais feminino”. Eles riem e para que não pensem “outras coisas” eu explico também sorrindo. E todos ficamos alegres.
Por isto, neste momento, o meu conselho: homens, vamos mudar de comportamento e vamos viver muito mais e melhor. E chorar vai nos ajudar muito. Os “machos” que nos condenem, mas “chorar é fundamental”. E que isto possa acontecer antes que a afirmação do famoso geneticista Steve Jones seja uma realidade: “o cromossoma Y vai desaparecer do mapa genético e os homens vão desaparecer”.
* Artigo publicado em 05.08.2009 no jornal O Povo e reproduzido neste site com autorização do autor.
Antero Coelho Neto
– Médico e professor e diretor do IQVida
acoelho@secrel.com.br