As lentes as quais os profissionais de comunicação enxergam e interpretam o mundo têm grande influência na sociedade. O ponto analisado no evento foi: considerando que o Jornalismo se alicerça em um processo de informação democrática e construção da realidade, o que seria, então, a boa notícia?



Foto: Agência da Boa Notícia


“O que é a pauta positiva? Quais são as consequências que a violência gerada pelo jornalismo causa na sociedade?”, questiona a diretora de Comunicação da Agência da Boa Notícia, jornalista Ângela Marinho, na abertura do Fórum Comunicação e Pauta Positiva – um olhar sobre os processos de produção dos meios e a interpretação da sociedade. O evento realizado, na última quarta-feira (9), na Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), por ocasião da entrega do Prêmio Gandhi de Comunicação, contou com a participação do jornalista Rinaldo de Oliveira, do site SoNoticiaBoa, do jornalista Tarcísio Matos e do advogado e sociólogo, Marcos Colares.


Para os convidados, a comunicação deve reforçar o compromisso com a pauta positiva. “As pessoas querem notícias boas. Defendo que devemos, no jornalismo, buscar o equilíbrio na divulgação de notícias. No lugar de 95% ruins, vamos abrir mais espaço para as boas”, sugeriu Rinaldo. “A construção de um mundo novo, a partir de uma pauta positiva, é o que precisamos como seres humanos”, completou Tarcísio Matos.

Boa notícia

As lentes as quais os profissionais de comunicação enxergam e interpretam o mundo têm grande influência na sociedade. O ponto analisado no evento foi: considerando que o Jornalismo se alicerça em um processo de informação democrática e construção da realidade, o que seria, então, a boa notícia?


Rinaldo de Oliveira destaca que o trabalho do jornalista é muito delicado. O meio convive há tempos com a cultura da notícia ruim, que se sustenta sob o argumento de que garante audiência. “Há mais de 500 anos, estamos acostumados com esse tipo de noticiário (violência). Tenho claro que violência gera violência. É muito delicado nosso trabalho como jornalista. Mas, temos que avaliar a notícia que levamos à casa das pessoas”.


Para o diretor do SoNoticiaBoa, a boa notícia é mudança de paradigma. “Não quero mais ser portador de notícia ruim, só de boas. Por isso, decidi viver do SoNoticiaBoa. O site está remando contra a maré. Mas, tem que quebrar paradigmas. Uso tudo que aprendi ao longo desses anos para construir esse jornalismo positivo”, afirmou Rinaldo.


O site tem um milhão de acessos por mês, com 600 mil usuários únicos, e mais de 100 mil seguidores no Facebook. “E ainda dizem que as pessoas não gostam de notícias boas?”, indagou Rinaldo.


Tarcísio Matos refletiu que a mudança em prol de uma pauta positiva tem que começar a partir do profissional. “O que estamos vendo com a iniciativa do Rinaldo, com o SoNoticiaBoa, e da Agência da Boa Notícia é esperança. É uma mudança de percepção dentro de nós. Precisamos pacificar palavras e atitudes, gerando a paz, dentro de nós, principalmente. Temos que aprimorar essa necessidade como comunicadores. Temos que ser promovedores da paz, mas primeiro temos que ter a paz dentro de nós. Não devemos ser conivente com a violência, mas humanizar o nosso proceder profissional. Pauta positiva tem espaço. Se é bom ouvir ou ler, é bom fazer”, ponderou o jornalista.

Enfoque

Marcos Colares defendeu o equilíbrio e o enfoque da notícia. “A gente não cria nada de novo, a gente aprimora o que tem. O bom ou ruim, o bem ou mal tem a ver com o olhar. O que dá para chorar dá para rir também. A questão é o peso e a medida. É possível trabalhar qualquer notícia, até a matéria mais grave, com outro enfoque. O enfoque que dou pode fazer mudar a vida de muitas pessoas. Escolher temas é uma tarefa que nem sempre cabe ao jornalista. É possível mudar? É difícil, é trabalhoso, mas é possível! Fazer algo bom no dia a dia faz a diferença. A boa notícia vem daí”, argumentou.

Protagonismo

Rinaldo de Oliveira lembrou, ainda, que a boa notícia seduz, emociona e empodera, principalmente, o sujeito da ação. “Uma das editorias que mais rende audiência no site é o Boas Ações. Aqui eu incentivo a colocar o sujeito na manchete, valorizando a pessoa que fez a boa ação. Uma frase sem o sujeito não identifica a pessoa da ação. No lugar de colocar “criança é salva em incêndio”, eu escolho “vizinho salva criança de incêndio”, por exemplo”, citou o jornalista.


Tarcísio Matos comentou sobre a dinâmica entre o profissional e o editor no dia a dia do jornalismo. “O profissional pensa: “como transformo a pauta positiva para o meu editor?” É com o poder do convencimento. Não se joga gasolina para apagar o fogo. Se você vai a casa de uma criança e liga a câmera esperando que a criança caia para filmar, mude. No lugar de esperar ela cair, evite a queda da criança. Sejamos nós os agentes da paz”, incentivou.


O jornalismo se alicerça em um processo de informação democrática e construção da realidade, porém, a boa notícia não exclui esse processo ou cria outro. A pauta positiva mantém a objetividade jornalística, apenas abre mais espaço para o viés otimista, equilibrando a informação. Boa notícia gera bons sentimentos, estimula o bem estar do leitor/telespectador/ouvinte e traz esperança.

 

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