Estou vindo da Flip -Festa Literária Internacional de Paraty, Rio. Fui ver para crer. A Flip não é feira de cultura, tampouco de livros. Mas, paradoxalmente, é um pouco disso. O seu ar pós-moderno é a procura de se caracterizar como uma festa múltipla com intelectuais, jornalistas, câmeras de tvs, cantores, acadêmicos, estudantes, ´bichos-grilo´ e visitantes. Usa o espaço privilegiado e bonito do Centro Histórico de Paraty, cujo pavimento é caracterizado por lajes ou calhaus assimétricos dando aos pedestres um requebro no desequilíbrio ao andar. Acima do nível do chão ergue-se o casario branco, tais como o quase-restauro feito em Salvador (Pelourinho), Recife (centro antigo) e Fortaleza (área do Dragão do Mar). Até na principal igreja houve concerto público de música brasileira, cujo regente era um fagotista cearense de Tauá, Francisco Formiga, que incluiu no repertório da noite a Suíte Hermética, do também cearense Liduino Pitombeira. Mas quem ganhou a maioria dos holofotes foi Chico Buarque. Em meio à travessia que fazia com o escritor Milton Hatoum teve a coragem de dizer: ´Acho escrever uma chatice´… e ´tenho dúvidas se Guimarães Rosa é mais importante que João Gilberto´. Ora, não dá para comparar o que é distinto. Para os músicos, como o Chico, é natural escolher o compositor João Gilberto. Entretanto, nem os músicos podem desconsiderar o valor de Rosa. Zuenir Ventura, a quem encontrei, entre outros, na Flip, ficou indignado e usou o jornal O Globo para dizer: ´como estabelecer paralelo entre quem usa como matéria-prima sons e acordes, e quem utiliza a palavra escrita?´ Ouvi palestras e entrevistas. A do americano Gay Talese, uma espécie de Valdick Soriano do novo jornalismo usava chapéu, paletó, gravata e colete: Uma gracinha. Mas tinha gente como o jovem escritor mexicano, Mario Bellatin, o poeta e contista chinês Ma Jian, o biólogo-evolucionista inglês Richard Dawkins. Sem falar nos brasileiros, onde destaco o editor Rodrigo Lacerda, o crítico Sérgio Rodrigues e o veterano Edson Nery da Fonseca, cultor do homenageado Manuel Bandeira que escreveu este verso ´a alma é que estraga o amor´.

* Artigo publicado em 26.07.2009 no jornal Diário do Nordeste e reproduzido neste site com autorização do autor.
 

João Soares Neto
Empresário e escritor
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