Em tempos idos, o Brasil era conhecido no Exterior como a pátria do Carnaval e do futebol. Hoje, é tido e havido como o país da violência e da corrupção.

Levemos em conta que corrupção, aqui, não é novidade. Sabe-se que as malas pretas sempre circularam pelos gabinetes do poder; é do conhecimento de todos que fortunas se edificaram alicerçadas no assalto aos cofres públicos, no contrabando, na sonegação fiscal.

Hoje, a corrupção tem mais visibilidade porque a imprensa está mais atenta a essa pauta. E tem liberdade para explorá-la. Os mecanismos de defesa da cidadania – ouvidorias, disque-denúncia – ganharam espaço, enquanto, no governo Lula, se fortaleceram instâncias como Polícia Federal e Controladoria Geral da União, que se tornaram mais vigilantes.

Já no reinado do PSDB, o procurador-geral Geraldo Brindeiro engavetou 242 e arquivou outros 217 dos 626 inquéritos criminais que recebeu. Acusações diversas se voltavam contra 194 deputados, 33 senadores e 11 ministros. Quatro miravam o próprio presidente Fernando Henrique. Não por acaso, Brindeiro ficou conhecido como o “engavetador-geral da República”.

Quando, no governo Dilma, se assiste à queda sucessiva de ministros, percebe-se que algo mudou. Mas eram necessários mecanismos para dar sustentação à mudança. Daí, a Lei da Ficha Limpa, finalmente validada pelo Supremo. Foi promulgada por Lula em 2010, a partir de um projeto de iniciativa popular que coletou 1,3 milhão de assinaturas. Gerou-se, pois, no berço do povo, retratando, na origem, a repulsa dos brasileiros a um estado de coisas que não pode perpetuar-se. Ela não certifica a honestidade dos políticos que irão eleger-se a partir do pleito deste ano. Mas, de imediato, vai alijar, da disputa eleitoral, elementos deletérios que sempre se refestelaram no interminável banquete dos corruptos.

A faxina moral será, reconheçamos, uma operação demorada, pois que a ladroeira está incrustada nos costumes nacionais – haja vista a descoberta diária de novos escândalos, em todos os poderes, em todos os escalões.

A Ficha Limpa, contudo, é um bom começo. O País aposta todas as suas fichas neste novo mecanismo.

Artigo publicado no jornal O Povo de 23 de fevereiro de 2012 e reproduzido neste site com autorização do autor

* Italo Gurgel é jornalista – italogurgel@yahoo.com.br

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