Para contar sua história e mostrar seu talento de poeta Felipe escreveu seu primeiro livro: Sonhos e as pedras no caminho. Durante a narrativa ele fala da infância pobre,das lembranças com seus pais e da dificuldade de viver em meio as drogas e ao tráfico



Foto: Thiago Walraven


 


A palavra é superação. Vamos falar sobre um menino moleque, filho da periferia de Fortaleza, jogador de bila, de futebol. Sua imaginação era fértil e voava, assim como as pipas que costumava soltar no sol escaldante nas “zareia”, comunidade onde viveu  sua infância no bairro Papicu, em Fortaleza.


 


Alguém que já nasceu grande, que sabe o que é passar fome, procurar por comida no lixo, conviver com armas e drogas, perder amigos para o vício… Felipe aproveitou as oportunidades ínfimas e as transformou. Sabe aquele poema do Drummond: tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra, foi através dessa poesia que Felipe conheceu seu maior dom: o de rimar a vida! Há quem ache estranho, há quem se encante com tamanha sensibilidade de um moleque que não tinha contato nenhum com a poesia. E, o mais inusitado de tudo é que ele tem conseguido driblar as pedras de seu caminho.


 


O garoto que queria ser o Romário não obteve tanto sucesso com a bola, no entanto, a cabeça que não faz gols como os do jogador estrela na década de noventa, está repleta de rimas e poesias. Felipe com apenas duas mãos e o sentimento do mundo, transformou a pedra do crack em pedra de sustentação para driblar a realidade dura e cheia de desafios.  E mais uma vez como Drummond, ter apenas duas mãos e mesmo assim, expressar seus sentimentos para o mundo.


 


Para contar sua história e mostrar seu talento de poeta Felipe escreveu seu primeiro livro: Sonhos e as pedras no caminho. Durante a narrativa ele fala da infância pobre, mas nunca carente. Das lembranças de seus pais, da dificuldade de viver em meio as drogas e ao tráfico. Do amor e da conexão com sua mãe. Porque para ele, assim como para o poeta mineiro, mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba.


 


Esse é Felipe Rima, educador social, artista, e acima de tudo, filho. O poeta das zareia conversou com a Agência da Boa Notícia (ABN) e falou sobre sonhos, limitações, fama, projetos e claro, Drummond. Felipe é um bom exemplo, uma boa notícia! Acompanhe na entrevista.


 


Entrevista
(Agência da Boa Notícia) O Felipe menino é como tantos cearenses da periferia, cheios de sonhos e também de limitações. Em meio a tantas histórias iguais você fez diferente. Qual foi sua grande motivação para a mudança?
Felipe Rima – Não consigo pontuar uma única razão, um único motivo. Qualquer intervenção em nossas vidas é positiva, o poder está na continuidade dessa intervenção. Quando eu ouvi pela primeira vez a poesia de Drummond eu achei aquilo mágico, as palavras eram mágicas e eu pensei: _-Como pode? Essas palavras se encaixam perfeitamente para mim, conectou com a minha história! Eu que achava que poesia só falava de amor, romance… Drummond foi o meu primeiro “start”.


 


(ABN) Você já viveu dois extremos: o ter nada e o ter tudo. O nada foi contornado e o tudo são as conquistas alcançadas. Seu primeiro livro é real e você saiu do anonimato. Como é lidar com a fama?

FR –
Cada dia é um desafio. Administrar minhas emoções e entender as intenções das pessoas, o porquê da aproximação. Ainda me surpreendo quando alguém me reconhece, é novo para mim. Eu fico feliz por entender que a minha mensagem chegou até ela. A minha mensagem de superação e de acreditar no poder dos sonhos. Eu me sinto muito grato quando percebo que a imagem do Felipe Rima está levando algo bom para as pessoas. Cada espaço que eu ocupo significa e fortalece ainda mais a minha missão. Eu venho das zareia, de uma comunidade desprovida de qualquer regalia e de repente eu ocupo um espaço, com os traços do hip hop e a cultura periférica e conseguindo inspirar as pessoas. Isso para mim é importante, é válido.


 


(ABN) O Felipe, moleque das zareia sonhou com o Felipe Rima?

FR –
Não. Eu sempre quis chegar no coração das pessoas. Eu nunca visualizei um espaço físico lotado com todas aquelas pessoas me esperando ou um status. Nunca quantifiquei.


 


(ABN) Você fez alusão aos poemas de Drummond, aliás, o seu gosto pela poesia foi o despertar para o seu lado poeta. Além de Drummond, quem são as pessoas que você admira, seus inspiradores?


FR – Quando eu era menino queria ser igualzinho ao Romário, jogar como ele. Meu pai e minha mãe são meus ídolos. No meio artístico eu admiro Mano Brau por sua história. Admiro poetas como Claricie Lispector, Patativa do Assaré.



(ABN) A poesia despertou o seu dom da escrita. Como é o Felipe poeta?

FR –
Poesia para mim é como o vento, não sei bem de onde vem e a intensidade, eu sinto. Todos os poemas e raps que escrevo eu nunca penso no tema. Escrevo em qualquer lugar,  só preciso sentir  vontade. Geralmente é ligado ao meu cotidiano. Já fiz poesia no ônibus, no avião, na praia. Fico inquieto e não consigo me conter. A vontade de escrever é meio sufocante, inquietante.


 


(ABN) E, qual é o próximo sonho, o próximo projeto, a próxima pedra a ser retirada do caminho?

FR –
Eu tenho uma produtora que se chama Batuque do Coração. Foi idealizada por mim e por meus amigos que funciona como um coletivo de artistas. Nosso trabalho é voltado para o mundo do hip hop e ações voltadas para a arte urbana. Eu almejo que a Batuque do Coração alcance força e estrutura para oportunizar crianças e jovens de origem semelhante a minha. Eu penso num espaço físico grande e equipado que ofereça atividades para esses meninos, que gere oportunidade para a comunidade.


 


(ABN) Hoje você é motivação. Têm jovens que querem ser como você. Como você vê essa responsabilidade, sair de inspirador para inspiração?

FR –
Eu digo sempre: eu não sou um exemplo de vida, eu sou um exemplo de vitória e um exemplo de vitória todo mundo pode ser. A vitória é muito segmentada. Eu não vendo a ideia de uma cara totalmente equilibrado porque eu não sou assim. Eu converso com as pessoas sobre os desafios que todos nós temos, inclusive eu. Para mim é uma responsabilidade muito grande ao tocar o coração das pessoas para que elas  encontrem impulso para que elas busquem os seus caminhos de realização pessoal.


 


Serviço


Livro: Sonhos e as pedras no caminho – Felipe Rima


Editora: Cene


 

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