Uma amiga próxima é quem me relatou. Nos seus 13 anos, em uma piscina de clube, passou por um princípio de afogamento. Não fosse a urgente reação de outra banhista, ela não teria me contado detalhes do ocorrido. E me disse ter se posicionado 3 metros acima da piscina, observando as pessoas alvoroçadas embaixo, vendo seu próprio corpo ser resgatado. Esta notícia me trouxe mais surpresa, pois estava lendo na época um livro a respeito deste inusitado assunto. Tal relato estranho, contudo, ao longo das últimas décadas, tornou-se fato menos exótico e mais conhecido de especialistas. 

A ciência contemporânea, usando da tecnologia médica e da pesquisa em áreas de fronteira, traça novos campos de conhecimento, com vigorosa atração. Coisas inimagináveis para nossos antepassados de 200 anos atrás, ainda que Júlio Verne tenha existido… É que, afora os arroubos e impressionismos da melhor ficção literária, como a de Jorge Luis Borges ou de Carlos Castanheda, a ciência tem também suas descobertas surpreendentes, provocadoras de reações diversas. Tal é o caso das pesquisas sobre as experiências de quase morte (do inglês Near-death experiences – NDEs).

O livro de referência obrigatória no assunto, e de reconhecimento internacional, chegou a minhas mãos no final dos anos 70. Vida após Vida, de Rayomd A. Moody, tornou-se um clássico, e seu autor um pioneiro no exame de um fenômeno extenso a ocorrer com prováveis centenas de pessoas mundo a fora. De lá para cá, são contados 30 anos de investigação regular no assunto, envolvendo outros pesquisadores. Não é pouca coisa, se considerarmos as repercussões do tema em vários campos do conhecimento humano, como psiquiatria, medicina, psicologia, filosofia e religião comparada.

Este inusitado fenômeno combina experiências de percepção extra-sensorial, vivências místicas e técnicas de ressuscitamento, além de positivas mudanças de estilo de vida entre aqueles que tiveram acesso a estas vivências. As pessoas que passam por tais vivências incomuns pertencem a origens culturais distintas, e os pesquisadores calculam que entre 10 a 20% da população possam ter tido experiências semelhantes.

Em 1981 foi criada nos EUA a Associação Internacional para estudos sobre Quase-morte, que desde então tem promovido pesquisa multidisciplinar sobre o assunto. Uma visita em seu sitio na internet (http://iands.org/home.html) reserva um conjunto variado de informações, publicações e fontes de consulta. Neste setembro de 2011, em um congresso nos EUA, mais resultados desta área foram partilhados por pesquisadores. Alguns ponderam que já contam com um “sólido passo na direção de uma compreensão racional sobre o que ocorre após a vida”, mas que se está apenas tocando na superfície do fenômeno.

Independente de filiação religiosa, postura filosófica ou formação cultural, é razoável aceitar que este assunto guarda em si mesmo uma questão universal, pois aborda um único e crucial acontecimento da aventura humana. Seus desdobramentos na direção do transcendente constituem, antes de qualquer ímpeto investigativo per si, um encontro com certas tradições e princípios religiosos e com a esperança de seguirmos, de outro “modo”, nossa existência pessoal.

João Tadeu de Andrade é docente da Universidade Estadualdo Ceará e professor visitante da Universidade de Toronto (Canadá) – tadeuece@yahoo.com.br

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