Em algum lugar reprimido do nosso genoma, estão todos os seres que cruzamos na longa caminhada da evolução das espécies. Predadores, carniceiros e rapineiros espreitam alguma brecha do nosso caráter ou qualquer embotamento da razão para se expressarem. Uma paixão não resolvida, uma frustração, uma dose de bebida, uma pitada de alucinógeno ou uma injustiça explícita podem liberar as formas mais bizarras de comportamento em qualquer homem.


A raiz da violência, exacerbada na frustradora sociedade capitalista, está nestes eventos aos quais estão expostos principalmente os jovens excluídos do consumo. Estes precisam ter acesso a escolas de bom nível, ser ouvidos, conhecer modelos edificantes e terem suas demandas, mesmo as incompreendidas, canalizadas para realizações pessoais.


A razão precisa ser exercitada na escola, na família, apoiada na ética, centrada na vida, embasada num coletivo que desenvolva mecanismos justos de controle e punição dos excessos. O Estado deve dar chances iguais a todos, punir os corruptos, diminuir as desigualdades sociais e facilitar o exercício de todas as potencialidades construtivas, não permitindo que metade da juventude seja condenada à sobrevivência como párias.


Enquanto as respostas não chegam evite-se a intempestividade das soluções violentas, da criação de um estado policialesco que leve ao sacrifício injusto e inútil de milhares de adolescentes. Que em cada um de nós prevaleça o bom senso desenvolvido no autoconhecimento, na observação dos modelos de honestidade, solidariedade e de generosidade; que a esperança vença o niilismo forjando o equilíbrio interior entre o Dionisíaco e o Apolíneo, sonho do super-homem Nietzschiano.


(Luiz Porto é chefe do Serviço de Mastologia da Maternidade Escola Assis Chateaubriand e do Hospital das Clínicas, além de presidir o Grupo de Educação e Estudos Oncológicos e coordenar o Comitê Estadual de Controle do Câncer.)

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