Em Todos os Dias são Difíceis na Barbúria, Márcio Catunda, poeta, romancista e ensaísta com mais de quarenta obras publicadas, tece uma crítica mordaz ao automatismo burocrático e ao autoritarismo no âmbito funcional. Com a maestria inconfundível dos escritores experientes, descreve a ineficiência corporativista, os boicotes no ambiente de trabalho, as intrigas, as picuinhas, as calúnias, as bajulações, as injustiças contra os mais vulneráveis e os abusos de poder – em suma: as mazelas diárias que compõem o inferno propriamente humano.
Preso nesse quotidiano esmagador, Crátilo Portela, protagonista da trama, esse homem “puritano, neurótico e sem erotismo”, só pensa em deixar a Barbúria e quiçá retornar um dia para o Rio de Janeiro. Neste seu novo romance, Catunda demonstra uma verve refinadíssima para o humor inteligente, seja ao encarar a difícil tarefa de abordar de modo realista certos aspectos da vida nua e crua.
A exemplo do que nos foi apresentado nas obras visionárias dos romancistas George Orwell e Aldous Huxley, vemos em Todos os Dias são Difíceis na Barbúria o traço característico e caótico de uma sociedade distópica, composta por homens frios e autômatos, isolados em suas prisões pessoais, sob o jugo de corporações totalitárias. O mecanismo conspirador da empresa que envolve o nosso protagonista é um grande simulacro de milhões de empresas espalhadas pelo mundo. E Barbúria, em verdade, é o microcosmo dos países modernos (especialmente as capitais), onde imperam os contrastes socioeconômicos e o dia a dia do cidadão burocrata acostumado (ou não) com a falta de ética e de valores humanos.
Esse mergulho no “inferno institucionalizado”, que serve de esteio para um desfile de personagens hipócritas, corruptos, interesseiros e mesquinhos, teve início no livro anterior, Terra de Demônios (Oficina Editores). Ao retomar o tema em Todos os Dias são Difíceis na Barbúria, o autor dá a vez e a voz a Crátilo Portela, que é um homem dotado de puritanismo, neurose, sem o capricho de dedicar seu tempo ao pensamento malicioso e aos prazeres carnais.
Nesses tempos sombrios de desumanidades e crescimento das desigualdades de classes, Catunda encontra uma forma inteligente de criticar o establishment com diálogos tenazes, ácidos e, ao mesmo tempo, de sutil humor. O leitor terá pela frente, ao longo das páginas de Todos os Dias são Difíceis na Barbúria, um extenso caminho de reflexão, instigação e algum desencanto, talvez, na tentativa de saber se a vida é cruel porque nós somos difíceis ou se somos difíceis porque a vida é cruel.
Sobre o autor
Márcio Catunda, escritor e diplomata brasileiro, nasceu em Fortaleza, Ceará, em 22 de maio de 1957. É membro da Associação Nacional de Escritores de Brasília, do Pen Clube do Brasil, no Rio Janeiro, da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo e da Academia de Letras do Brasil.
Serviço
Lançamento do livro Todos os Dias são Difíceis na Barbúria, de Márcio Catunda
Foyer do Theatro José de Alencar
Dia 10 de maio (quinta-feira), às 19h
Livro à venda no local. Valor: R$ 30,00
Acesso gratuito
Com informações da Assessoria de Comunicação