Final de campanha e o momento me parece propício a considerações sobre a estratégia usada pelos comitês dos dois candidatos. Isto é dito porque alguns leitores me perguntam: “por que os candidatos, nos horários eleitorais, não tratam dos problemas do País nem falam disto nos palanques?
1 – Falemos um pouco sobre a primeira colocação. O horário eleitoral é corrido, seja em rádio seja em televisão e cada programa procura apresentar a plataforma do partido. Na televisão a ênfase dada é à imagem e no rádio à palavra envolvidas pelo refrão dos candidatos. O objetivo é fixar “o enredo da candidatura”.
2 – Nos palanques, com a euforia dos eleitores e/ou das claques com o acenar de bandeiras, e gritos e charangas à toda altura, o apelo dos oradores tem que ser rápido, enfático, diria “aos gritos”, para algo ficar na “lembrança” dos presentes. Impossível a apresentação de propostas : o que marca a atuação política nos palanques é a presença, quanto maior melhor, de pessoas.
Chego a dizer que nas multidões o raciocínio inexiste, predomina a emoção. E mais, qualquer mensagem há de ser a mais accessível à média intelectual da massa e ela, pelo que se estuda em Gustavo Le Bon, é a mais baixa dentre os presentes. E quando o eleitor acompanha a discussão dos grandes temas nacionais? Na minha ótica isto acontece nas mesas redondas, entrevistas nos programas de rádio e televisão. É nesses momentos em que analistas, cientistas e jornalistas tratam e debatem os problemas do Brasil. Enquanto nos palanques e nos horários eleitorais com os candidatos o apelo é emocional, diria até “passional”, na imprensa (lato sensu: veículos de massa) ao contrário, o quadro é outro: “racional.”
O brasileiro não é um quadro amorfo, “Maria vai com as outras” não: somos uma nação gradativamente esclarecida, amadurecida, politizada. Digo “gradativamente” porque a democracia é uma longa conquista e nós estamos caminhando: caminhando a passos largos.
* Artigo publicado em 26.10.10 no jornal O Povo e reproduzido neste site com autorização da autora.