Na Índia perguntei a um Mestre de Yoga: como trazer paz ao mundo? Ele me respondeu que devemos cultivá-la dentro de nós. A pergunta partia de um pressuposto turvado por certa ingenuidade e ignorância, na qual a pressa tomava o lugar da sabedoria. A questão deve corajosamente considerar a natureza imprecisa do tal “mundo”. Se, de um lado, em sua feição visível, o mundo manifesta realidades objetivas, de outro abriga um cosmo interior, por vezes não consciente, em que navegam irresistivelmente os seres humanos. O mundo concreto do emprego, renda, moradia e necessidades humanas básicas, deve ser melhor compreendido frente às forças do desejo, das crenças e paixões, em suma da subjetividade. São faces inseparáveis da mesma realidade.
É neste entendimento da condição humana que um grupo de pessoas em Fortaleza, inspirados pela criatividade oriental do professor Harbans Arora, vem propondo o projeto Fortaleza em Paz (www.fortalezaempaz.org). Sintomaticamente, enquanto, desde dezembro último, as bombas caem na Faixa de Gaza, estas pessoas, em parceria com a Secretaria de Segurança Pública do Estado, com escolas, entidades civis, religiosas e movimentos comunitários, defendem um “Ronda da paz”, atuando justamente no interior das pessoas. O Projeto propõe uma prática regular de recolhimento pessoal, em horários estabelecidos, no qual as pessoas possam voltar suas melhores vibrações para a paz na cidade, para a cordialidade entre as pessoas, para a tolerância nos relacionamentos humanos, de modo a reduzir e evitar os comportamentos e situações de violência entre nós.
Como ensinou Gandhi, “a paz é o caminho”, de modo que nossos percursos e itinerários interiores, imaginativos e emocionais, sejam construídos na vivência da paz. Isto pode gerar uma ecologia consigo mesmo e com os outros, condição razoavelmente saudável de nossa civilidade.
* Artigo publicado em 09.03.09 no jornal O Povo e reproduzido neste site com autorização do autor.
João Tadeu de Andrade
– Professor da Universidade Estadual do Ceará
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