No mundo globalizado a atenção de todos sobre a educação tende a redobrar. Como em nenhum momento anterior da história, a sociedade em rede requer habilidades de educação formal e conhecimentos adquiridos com a mediação da escola. Estudos comprovam que em contextos marcados pela desigualdade econômica e social, o esforço de construir uma escola de qualidade é muito maior do que naqueles onde a distribuição de renda é mais homogênea. Isto porque, em qualquer caso, o capital cultural que crianças e jovens trazem de casa para a escola faz grande diferença nas possibilidades de nela progredirem. A despeito dos esforços de desenvolver políticas diversas de promoção da equidade, os resultados do Enem divulgados há algumas semanas, assim como de outros sistemas de avaliação, evidenciam as desigualdades inscritas no interior do sistema escolar. A educação para o sucesso escolar é, portanto, desafio inadiável a enfrentar.

A escola pública é o espaço por excelência onde se forma o cidadão brasileiro. Nela estudam mais de 90% dos alunos de ensino fundamental e cerca de 85% daqueles de ensino médio. Por isso mesmo, mais do que apontar culpados pelo fracasso das políticas que chegam (ou não) ao chão da escola, vale a pena concentrar o olhar sobre o que e como pode dar certo para construirmos uma educação para uma comunidade de aprendizes.

A literatura sobre escolas eficazes tem muito a ensinar sobre a conquista de bons resultados. Aqui comentaremos dois fatores associados ao êxito escolar. O mais importante, sem dúvida, é o foco sobre o ensino e a aprendizagem de todos os alunos e alunas. Mesmo podendo parecer óbvio, é necessário insistir nesse ponto. Muitas escolas “esquecem” do quanto o bom ensino e a dedicação ao trabalho por parte de professores e estudantes é indispensável. A presença de alunos fardados perambulando pelas ruas dos bairros de nossas cidades em horário de aula é um sinal explícito de que há escolas que não cuidam de suas crianças e jovens. A aprendizagem é tarefa complexa que requer esforço, atenção e constância. Lugar de aluno é na escola; estudando, com professores dispostos a ensinar.

Outro fator a considerar são as expectativas positivas de professores e gestores sobre sua clientela. Embora os estudos sobre motivação sejam claros a esse respeito, muitas escolas duvidam do potencial de aprendizagem de seus alunos. Acreditar que todos – absolutamente todos – podem e devem aprender é um fator decisivo para o sucesso dos sistemas escolares, como indicam vários autores e estudos.

É claro que os dois fatores aqui apontados não caminham sozinhos. Existem outros elementos determinantes do êxito escolar. Professores e gestores bem formados e valorizados é também fator decisivo, assim como a presença de condições satisfatórias de ensino-aprendizagem. Promover a educação de qualidade não é tarefa para amadores. Vale lembrar, porém, que lições simples e viáveis estão ao alcance das escolas. É preciso começar por acreditar que as coisas podem mudar. E que são as pessoas que fazem a mudança.

* Artigo publicado em 12.05.2009 no jornal O Povo e reproduzido neste site com autorização da autora.

Sofia Lerche
– Professora
sofialerche@gmail.com

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