Trabalho com luto há alguns “muitos” anos. Consegui colocar a disciplina na Unifor por achar que é indispensável mostrar aos psicólogos em formação que a perda de um ente querido é o momento de maior fragilidade de um ser. Sempre deixo bem claro que ente querido não quer dizer que são somente familiares. Entra-se em processo de luto quando laços afetivos verdadeiros se rompem definitivamente “nesse mundo”. E podemos ter laços afetivos não só com nossos semelhantes. A nossa sociedade não reconhece determinados processos de luto, o que pode trazer adoecimento para o indivíduo enlutado que não tem o apoio, nem a “permissão” de vivenciar as fases do seu luto, ficando com a sensação de solidão na sua dor. Dentre os lutos não reconhecidos, está o luto por um animal de estimação. O que para muitos é somente um animal, para outros é uma fonte de amor incondicional.


Os vínculos das pessoas com seus animais estão se tornando cada vez mais fortes. Devemos repensar e acolher a dor dos que perdem esses seres tão queridos. Não seria fiel ao que ensino, se não vivenciasse intensamente a morte do meu pequeno Lui. Se não realizasse meus rituais de despedida, se não me permitisse chorar pela sua ausência e sentir raiva pela negligência.


Fez um mês em que vi meu pequeno Lui vivo pela última vez. Para alguns, o que digo pode não fazer sentido, mas com certeza os sensíveis e aqueles que têm a habilidade da empatia compreendem esse fato. O luto nunca acaba, apenas se transforma. Nunca esqueceremos os que amamos, apenas encontramos um novo lugar para eles, no coração e no pensamento. Tenho certeza que a passagem do Lui não foi em vão. Ele despertou o verdadeiro amor em algumas pessoas e ajudará a salvar muitos outros mascotes.

* Giselle Sucupira Mesquita é psicóloga e professora universitária


Artigo publicado no jornal Diário do Nordeste

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