Declarado Servo de Deus pelo Papa Francisco em 2015, Dom Helder foi chamado ao seio do Pai aos 27 de agosto de 1999, após completar noventa anos, vividos e bem vividos. Celebrava a missa lentamente, com toda a simplicidade, como se estivesse conversando com o Cristo, a Virgem, os santos. “Cada manhã, ao fim da missa, eu contemplo o mundo com a alma de um colegial em férias e tenho vontade de gritar àqueles que se esgotam na agitação da vida cotidiana: Irmãos, hoje é feriado universal”. O Pe. João Carlos Ribeiro (Salesiano) assim asseverou: “Havia tanta emoção nas palavras da consagração que o vimos muitas vezes chorando, ao celebrar a Missa, e sempre repetia com toda a convicção de que o verdadeiro celebrante da Missa é Nosso Senhor Jesus Cristo”.


Dom Helder foi um articulador; na melhor expressão da palavra, um conspirador, pensando no bem, com suas iniciativas compartilhadas por muita gente da Igreja, desejando fazer com que a Igreja instituição se comprometesse e se engajasse na causa dos empobrecidos, identificando-se com seu fundador e mestre, Nosso Senhor Jesus Cristo. Pensava e desejava ele uma Igreja despojada, pobre e mais servidora. Daí o “Pacto das Catacumbas”, de 16 de novembro de 1965, que foi uma excelente oportunidade para os bispos pensarem e refletirem sobre eles mesmos, no sentido de fazer uma experiência de vida, na simplicidade e na pobreza, numa Igreja encarnada na realidade, comprometida com o povo, renunciando às aparências de riqueza, dizendo não às vaidades, consciente da justiça e da caridade, através desse documento salutar e desafiador.


No seu sonho em favor de uma Igreja restaurada e renovada no amor, dentro do espírito do Concílio Vaticano II, na feliz iniciativa do referido Pacto das Catacumbas, Dom Helder foi de tal modo concreto que, numa sugestão filial quanto profética, assim se expressou ao Santo Padre, Papa Paulo VI: “Santo Padre, abandone seu título de rei e vamos reconstruir a Igreja como nosso Mestre, sendo pobres. Deixe os palácios do Vaticano, vá morar numa casa, na periferia de Roma. Pode até ter uma praça para saudar e abençoar as ovelhas. Depois, Santo Padre, convide a todos os bispos a largarem tudo o que indica poder, majestade: báculos, solidéus, mitras, faixas peitorais, batinas roxas. Vamos amontoar tudo na Praça de São Pedro e fazer uma grande fogueira, dizendo de peito aberto para o povo: ‘Vejam, não somos mais príncipes medievais. Não moramos mais em palácios. Todos somos pastores, somos pobres, somos irmãos’”.


Nada melhor do que elevar preces ao bom Deus, guardando na mente e no coração alguns pensamentos do pastor dos empobrecidos, no ardente desejo de vê-lo santo da nossa Igreja: “É graça divina começar bem, graça maior é persistir na caminhada, mas a graça das graças é não desistir nunca”; “A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes”; “Não há penitência melhor do que aquela que Deus coloca em nosso caminho todos os dias”; “O verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros ricos, e que os pobres devem atribuir a sua pobreza à vontade de Deus”; “Eu queria ser uma poça d’água para refletir o céu”; “Quem me dera ser leal, discreto e silencioso como a minha sombra”. Assim seja!

 


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