Quem se deixa tocar por Jesus de Nazaré, a exemplo de Dom Helder Câmara, sente em si uma transformação divina, fica muito livre e, evidentemente, põe-se a servir dentro da lógica do amor, na busca do grande milagre da vida, que são dom e graça. Como a vida é uma caminhada, com uma estrada a percorrer, ensinou-nos a rezar nesta estrada: “Como é bom rezar na estrada, longe das luzes das cidades, sem lua e apenas entregue às estrelas! Pensei nos caminhos e nos descaminhos; nas estradas largas e nos atalhos; nas autoestradas e nos caminhos esburacados, lamacentos, intransitáveis (…)”. Deus seja louvado por Dom Helder! No seu empenho em devorar longas estradas, quis restabelecer o bem-estar no mundo, com seu sonho de solidariedade, justiça e paz.

Dom Helder, diante das exigências e do respeito pela vida como um todo, despertou e ensinou em muitas pessoas, de maneira nova, a confiança e o fascínio pela novidade do reino, proclamado por Jesus. Tal foi sua estreita comunhão com Deus, sua vontade de viver, de fazer o bem e de ver o mundo transformado, solidário e fraterno. Como criatura humana, profundamente amada por Deus, “queria ser uma humilde poça-d’água, para refletir o céu”. Assim, numa grande visão pedagógica desse mesmo mundo, sempre nos ensina a utopia do reino: “Quando se sonha no isolamento, é só um sonho, mas, quando o sonho é em comunidade, já é começo de uma nova realidade”.

Não esquecer jamais o menino Helder, nascido há 109 anos, aos 7 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, Ceará, onde cresceu brincando de celebrar missa e, ao receber o conselho do pai, quando soube que queria ser padre, escutou dele: “Meu filho, você sabe o que é ser padre? Lembre-se de que padre e egoísmo nunca podem andar juntos. Padre tem que se gastar e se deixar devorar”. Dom Helder toma a decisão de ir para o Rio de Janeiro em 1936 e Dom Manoel da Silva Gomes, seu arcebispo, ao saber do desejo do jovem padre, assim se expressou: “Meu filho, é Deus, é Deus que está lhe chamando para o Rio de Janeiro. Vá, meu filho! Vá!”.

O encontro de Dom Helder Câmara com Dalai Lama – dois grandes pacifistas – no Rio de Janeiro, em 1992, bem que nos ajuda a refletir e pensar na boa semente plantada no coração do povo de Deus pelo Artesão da Paz no século XX, numa longa estrada: 1909 a 1999. Diante dos sinais de morte e tribulações, pelos quais passa a humanidade, Dom Helder quer mexer com nossa insensibilidade e indiferença: “Que sementes desejo espalhar pela Terra? Sementes de paz, de amor, de compreensão e de esperança. Há tanto desespero, desengano, decepção, frustração e desesperança! Sementes de esperança chegariam em boa hora”. Amém!

*Pároco de Santo Afonso e vice-presidente da Previdência Sacerdotal, integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza – geovanesaraiva@gmail.com

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