Lamento. Não queria estar escrevendo sobre violência e morte. Bastam os jornais e os programas policiais de muitos ouvintes e telespectadores. Queria dizer aos que andam pelas cidades brasileiras que estão seguros. Queria dizer que jovens se recuperam, se reclusos por delitos. Queria dizer que os órgãos públicos dão combate eficaz à delinqüência e assistentes sociais e psicólogos se sentem vitoriosos com a mudança de comportamento de imberbes membros de gangues.


Queria que todos entendessem que favelas não são lugares de delinqüentes. A delinqüência está em todos os níveis e lugares. Queria acalentar pais, pobres ou ricos, que perdem filhos como assaltados ou assaltantes. Queria, mas não sei como. Dizia o filosofo alemão Shopenhauer que a vida não existe para ser aproveitada, mas para ser suportada. Assim, nós suportamos ler nos jornais todos os dias os assaltos, mortes e violências por gangues alimentadas pelo “crack”, maconha e outras drogas. Precisam ficar espertos para agir. E, por trás dessas gangues, existem fornecedores e cobradores das drogas. O assalto é um meio de pagamento e a arma alugada é o lugar comum entre os que ainda não possuem as suas próprias.


Queria não ficar assustado com os pedintes em todas as esquinas que disputam com os “flanelinhas” e os distribuidores de panfletos o direito de importunar os que estão aprisionados em suas bicicletas, motos e carros. Queria que o trabalhador, cansado, voltasse para a casa em ônibus e pudesse cochilar antes da descida. Não, não se pode cochilar. O medo é fruto da insegurança e o desassossego lateja sob a pele dos que não sabem quem é o inimigo. Queria que tudo fosse fácil de ser resolvido. Que se entendesse que hoje um jovem de 16 anos é diferente do menino do século passado. Há informações demais. Para o bem e para o mal. O que se entende é o que se vive. Os pais, sempre eles, ficam cientes de seus despreparos em estabelecer limites, apontar valores e medo de virar “caretas”. Todos os pais, analfabetos, letrados, endinheirados, medianos, pobres  ou miseráveis, estão  sempre com medo da noite, por seus encantos, desvios ou perigos. As ruas têm nome de desassossego e rastro de sangue.


* Artigo publicado no Diário do Nordeste em 14 de março de 2010 e reproduzido neste site com autorização do autor.

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