Não sei se muda do dia para noite. Mas chega o dia que você percebe que…

Depois dos trinta você é menos imediato, mais contido.

Você pensa se vale realmente a pena começar aquela briga no trânsito porque fulano insiste na fila dupla ou se é melhor fingir que não viu.

Sua expectativa de mudar o mundo é menor, menos eufórica, mais realista.

Você olha por onde pisa e já observa atentamente o preço dos produtos no supermercado.

Mais café, menos bebidas alcoólicas. E o café cada vez mais quente, para acordar os sentidos, que podem vir a precisar de uma ajudinha.

Aquela música, uma de suas preferidas, hoje pertence às pré-históricas das rádios.

Depois dos trinta, a noite não é mais uma criança e você se pega bocejando antes de terminar o Jornal Nacional. Seu programa favorito passa a ser os canais TV paga, que te proporcionam vários filmes seguidos, preferencialmente na sua cama e de pijama.

Depois dos trinta você já ganha dinheiro, já faz investimentos, planeja seu futuro e não pensa em parar. Busca superação, mas não se descontrola tão facilmente. Não tem tanta pressa, quer mesmo é perfeição.

Você é seletivo, mais dinâmico, já faz diferença e já pode ser notado.

Diante do espelho, já se preocupa com o envelhecer. Alimenta-se melhor (ou pelo menos tenta). Geralmente aparecem as primeiras linhas de expressão e as crises de gastrite. Bebe mais água, passa protetor solar e pode até se interessar por cosméticos.

Depois dos trinta a ausência de filhos talvez te incomode, comece a te perturbar, talvez não.

A presença deles algumas vezes também irá te incomodar. Quanta responsabilidade e  renúncia. E o que você ganha em troca? Um amor infinito, inexplicável. E em dias você se verá realizado, feliz, em outros, histérico, perturbado, amedrontado.

Talvez você divida com alguém suas experiências. Talvez já tenha tentado dividir e não deu certo. É possível que você esteja procurando alguém ou que já tenha desfrutado de momentos felizes inúmeras vezes. O que é diferente é a forma como você enxerga os relacionamentos. Qualidade é bem melhor do que quantidade, isso você já entende.

Depois dos trinta você começa a administrar melhor os seus erros.

A tristeza que outrora possa ter acontecido já não te assusta. Não é motivo de desespero, tampouco te impede de tentar mais uma vez.

Depois dos trinta você aprende que uma história tem várias verdades e que nem sempre você concorda com os atos das pessoas que você ama.

Você se assusta ao perceber que a quem você designou o posto de melhor amigo, hoje está distante e já não sabe como você e a sua vida mudaram.

Ah, depois dos trinta você começa a observar com mais atenção o que sempre esteve a sua disposição. As fases da lua, a ilusão do caminhar das estrelas, o balanço das árvores.

Você sente saudade da infância, das brincadeiras, do cheiro da casa dos avós e de como você cabia direitinho no colo da sua mãe.

Você vai testando a memória e percebe que quanto mais o tempo passa, mais parecido você fica com os seus pais. Você se pega agindo da mesma forma. Isso! Daquele jeito que você tanto recriminou.

E aí você poderá perceber que muito ainda virá. Que foi tão rápido passar dos 30.

Que o que não foi bom não deve se repetir.

Que o que foi bom deve ser preservado e que você está super aí para vida.

Que apesar de tudo amar, sorrir, chorar, sofrer, faz parte. E que você é um privilegiado por fazer parte desse espetáculo maravilhoso que é VIVER.


Márcia Rios – Jornalista

marciariosjor@gmail.com

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