A campanha eleitoral em curso tem como fundo musical o julgamento dos envolvidos em caudaloso escândalo de corrupção. Num cenário já tão prodigioso em tramoias e maracutaias, que deitaram por terra a credibilidade dos políticos, o retorno do mensalão aos meios de comunicação vem aprofundar ainda mais a descrença dos brasileiros nos protagonistas da vida pública.

 

O clima é perfeito para que vicejem os pregoeiros do caos. “Vote nulo”, sugere determinada corrente que circula nas redes sociais.

Seria a resposta dos eleitores aos que entram na política com o propósito único de assaltar os cofres públicos. E há quem embarque nessa cavilosa proposta, sem perquirir as reais intenções de seus patrocinadores, sem atentar para o fato de que ela vem punir, da mesma forma, os bons e os maus políticos.

Em primeiro lugar, voto nulo não embarga eleição nenhuma. Votar nulo significa apenas que o eleitor abriu mão da chance que lhe foi oferecida de participar de um processo que pode deflagrar mudanças.

Quer transformar o atual cenário? Quer escrever uma nova história? Escolha melhor os candidatos. Investigue seu passado. Analise seu discurso. E não troque o voto por favores pessoais.

Confesso que jamais me decepcionei com os políticos em quem votei nas eleições passadas. Todos eles emprestaram dignidade a seus mandatos, atuaram em defesa dos princípios nos quais acredito e se fizeram merecedores da minha confiança em pleitos futuros.

O voto nulo, tal como proposto em indigestos spams, não se baseia em fundamentos ideológicos. Traduz-se, isto sim, no voto da ignorância e irresponsabilidade cívica, conferindo ao “eleitor” diploma de alienação.

Serve apenas aos propósitos dos saudosistas da ditadura, que trabalham para desacreditar as instituições políticas e desmantelar o sistema democrático, na esperança de abrir espaço para algum aventureiro que retome o caminho do arbítrio, da repressão, da tortura, da imprensa amordaçada… e da corrupção – sim, da corrupção, dessa feita acobertada pelo edredom do silêncio e do medo.

Corrupção na política se combate com a vigilância, com a participação da sociedade nos mecanismos de controle. E com o exercício pleno da cidadania. O que pressupõe o voto consciente.

Artigo publicado no O Povo de 14 de agosto de 2012 e reproduzido neste site com autorização do autor

 
Italo Gurgel é jornalista – italogurgel@yahoo.com.br

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