Em sua obra clássica, ‘Raízes do Brasil’, Sérgio Buarque de Holanda dedicou um capítulo a estudar o brasileiro como “homem cordial”. E o fez indo além e ao oposto da visão que então se popularizava de que isso se referia à nossa cordialidade, hospitalidade, generosidade.


 


Sérgio Buarque não negou esse aspecto do caráter brasileiro, mas mostrou que essa “cordialidade” remete, fundamentalmente, ao comportamento movido pela emoção, pela paixão, não havendo nada que viesse a assemelhar-se a “civilidade”, “boas maneiras”. Mais emotivo, menos racional… tem sido nosso modo de viver no privado e no público, especialmente no público privatizado.


 


Essa ideia seminal vem corroborando muitas situações, como a oportunidade de sediar a Copa Fifa 2014, que permite melhor aquilatar o comportamento público dos brasileiros sob os holofotes da mídia mundial. Para isso tomemos a conduta de parte dos torcedores no Itaquerão, em São Paulo, na ocasião do jogo de abertura do mundial de futebol, quando se fizeram ouvir vaias e xingamentos dos mais abjetos ao presidente da Fifa e à presidente do Brasil.


 


Críticas políticas, clima eleitoral e insatisfação de alguns com a Copa no Brasil à parte, o episódio vergonhoso revelou que ainda não aprendemos a agir em todos os momentos com o ritual de polidez que a vida civilizada exige. Continuamos a confundir paixão e razão, privado e público, denegrindo as instituições que queremos melhorar e, pior, mostrando ao mundo como somos ainda imaturos e inconsequentes quando resolvemos sair da letargia política. O que nos salva é que essa sandice não foi unanimidade nacional.


 


* Marcos José Diniz Silva é historiador e professor da Universidade Estadual do Ceará


 


Artigo publicado no jornal Diário do Nordeste e reproduzido neste site com autorização do autor

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