Três publicitárias e dois jornalistas uniram talentos, experiências, inquietudes e sonhos. Nasceu de tudo isso um portal de comunicação com uma proposta inovadora. O Ceará Criolo (www.cearacriolo.com.br) vem para desconstruir. Desmistificar. Ressignificar. Propor um novo jeito de tratar a população negra.
O coletivo defende uma comunicação socialmente inclusiva, afetivamente sustentável e moralmente viável. “Isso quer dizer que a gente não se enxerga no modelo que está aí de jornalismo, de publicidade, de cinema, de arte… O povo preto tem uma cultura riquíssima, é fundamental na formação da sociedade brasileira, é maioria populacional e ainda assim é quase sempre retratado de forma estigmatizada. A gente quer ir na contramão da crise moral e de representatividade que a humanidade atravessa”, diz o jornalista Bruno de Castro.
Como surgiu?
A ideia de criar um portal sobre a negritude surgiu durante o curso “Comunicação e Igualdade Racial Abdias Nascimento”, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas do Estado do Ceará (Sindjorce) entre agosto e outubro deste ano. Os comunicadores lançaram oficialmente o espaço no último dia 23/10 e já estão expandindo a proposta inicial.
A princípio, o Ceará Criolo seria composto por cinco seções principais: Afrossaberes, Artigos&Crônicas, História Negra, Perfil e Leitura Crítica. Cada uma com uma vertente específica de promoção de uma agenda positiva sobre a população negra cearense e brasileira.
Diante da excelente repercussão inicial dos trabalhos, porém, o coletivo decidiu abrir pelo menos mais três frentes de publicação na tentativa de abraçar outras formas de produção de conteúdo sobre a população negra.
Assim, o Ceará Criolo terá espaço para reportagens especiais, notícias e fotografias. “Eu espero que o portal sirva para desmistificar esse mito de que no Ceará não tem preto. Que seja um local de encontro dos negros cearenses e do que eles andam produzindo”, frisa a publicitária Tatiana Lima.
Em apenas uma semana de existência, o coletivo já coleciona centenas de seguidores nas redes sociais e tem visto os textos que produz replicados por gente das mais diversas matizes políticas. Inclusive por personalidades internacionais, como o escritor luso-africano Valter Hugo Mãe.
“O Ceará Criolo vem como uma voz que há muito foi silenciada. E este silêncio nós fazemos questão de quebrar. Nossa história não será mais escondida; não será mais pejorizada. Estamos colocando a comunicação a serviço da descolonização do pensamento, do enegrecimento do ser. Chegamos e viemos para ficar”, defende a publicitária e mestra em Psicologia Jéssica Carneiro.
Ação afirmativa
Os comunicadores acreditam que o atual momento político do Brasil exige a existência de espaços de resistência como o Ceará Criolo para direitos civis conquistados depois de muita luta não sejam extintos. “Mais do que uma necessidade, o portal é um grito de vitória; uma ação afirmativa. Somos jornalistas e publicitários decididos a fazer a diferença, a combater o racismo e ir além: mostrar a história escondida, embranquecida, dar voz a personagens invisibilizados. Vamos contar a história de quem está fazendo a diferença nas mais diferentes searas da vida”, acrescenta o jornalista Rafael Ayala.
A ideia do coletivo é a de o portal ser um espaço de construção coletiva. Por isso, colaboradores fixos e temporais já estão sendo captados. “Espero que o portal sirva tanto como de informação honesta e construtiva sobre a negritude quanto para fazer, de fato, uma renovação de narrativas. E é fundamental que a população negra reconheça o seu lugar de fala para que se empodere dos seus processos de significação social. O Ceará Criolo deve ser esse espaço. Localizado regionalmente, afirmado etnicamente, acessível globalmente”, finaliza a publicitária Rayana Vasconcelos.