As manifestações de junho último que tomaram as ruas de todas as capitais e grandes cidades brasileiras levaram o governo da presidenta Dilma Rousseff a decretar, através de Medida Provisória, o programa Mais Médicos. Atualmente, dos 5565 municípios brasileiros, mais de 1500 nunca viram um médico sequer, mas agora, com o Mais Médicos, vão poder dar atenção básica de saúde aos seus moradores.


O programa oferece uma bolsa de R$ 10 mil mensais, paga pelo Governo Federal, mais moradia, alimentação e transporte garantidos pelos Municípios. A presidenta Dilma deixou bem claro que as vagas deveriam ser ocupadas por médicos(as) graduados no Brasil, mas se esses não quisessem chamaria médicos estrangeiros. O número de médicos brasileiros inscritos até que foi expressivo, no entanto pouquíssimos confirmaram, o que ensejou o chamamento de médicos estrangeiros, notadamente cubanos.


Algumas entidades médicas de todo o País promoveram e continuam promovendo protestos exigindo de todos que se submetam ao Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida) e ameaçam entrar com ações na Justiça para impedir o exercício da profissão daqueles que não fizerem o Revalida .Acontece que o decreto presidencial publicado nesta segunda-feira 26 estabelece que a carteira provisória dos médicos com diploma estrangeiro que atuarão pelo Mais Médicos deverão trazer mensagem expressa quanto à proibição ao exercício da medicina fora das atividades do programa. Portanto, não poderão dar plantão em hospital, fazer cirurgia, atuar em consultório particular, aplicar anestesia etc, a não ser que se submetam ao Revalida.


A velha mídia conservadora, venal e golpista, que em 1999 no desgoverno do Coisa Ruim (FHC) enalteceu a medida governamental de trazer médicos cubanos, manchetando que eles eram bem-vindos pois iriam salvar vidas, agora, como a iniciativa é da presidenta Dilma, essa mesma mídia se posiciona contra.


Reportando-se sobre o município de Arraias, em Tocantins, cujo único hospital estava fechado há quatro anos por falta de profissionais de saúde, a revista Veja, na edição de 20 de outubro de 1999, elogiou ao máximo a vinda de médicos cubanos ao Brasil, afirmando que “O milagre veio de Cuba”.


Na mesma matéria, a revista que hoje é contra a vinda de médicos cubanos, explicitava que aquele hospital ficou fechado por quatro anos porque “faltavam médicos que quisessem aventurar-se naquele fim de mundo”. Naquele ano, quando os tucanos neoliberais governavam (?) o País, a revista da Editora Abril dedicou duas páginas ilustradas com fotos de profissionais cubanos. “Doutores de Cuba – Doentes do interior são atendidos por médicos cubanos por falta de brasileiros”.


Como a maioria esmagadora da população e a totalidade dos prefeitos estão aplaudindo o programa, a velha mídia está questionando agora o pagamento dos médicos cubanos, chegando alguns colonistas e outros amestrados a compará-los a escravos. A colonizada Eliane Catanhêde, da Folha de São Paulo, chegou a falar em aviões negreiros, já que os cubanos serão pagos pelo governo do seu país.


Por má fé, esses colonistas omitem que todos os médicos cubanos são funcionários públicos em seu país, portanto todos têm emprego, e que aqui vem prestar um serviço médico, ao contrários dos portugueses, espanhóis, argentinos e de outros países que estão desempregados e vem como pessoa física. A intermediação com o governo cubano foi feita pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) que receberá os recursos do governo brasileiro e repassará ao governo cubano que, por sua vez, paga os seus funcionários que aqui prestam os seus serviços na atenção básica de saúde.


Os colonistas e demais amestrados, que nunca defenderam os trabalhadores, agora estão questionando que os médicos cubanos vão ganhar muito menos que os demais e que isso é “escravidão”. Contudo os médicos cubanos calaram a boca desses amestrados afirmando que não tinham do que reclamar. A médica Natasha Romero Sanches, uma negra de 44 anos e quase 20 de experiência na área de saúde, enfatizou que “o meu salário é suficiente”. Disse ainda que trabalhava por amor e pela vocação de salvar vidas.


E isto ficou demonstrado em 70 países onde os profissionais cubanos atuaram e ainda atuam. Quem não se lembra da tragédia que foi o terremoto no Haiti em 2010, quando morreram milhares de pessoas, inclusive a brasileira Zilda Arns, da Pastoral da Criança, irmã de dom Paulo Evaristo Arns? Enquanto os Estados Unidos mandaram milhares de fuzileiros navais, muitos tanques e bombas, o governo cubano enviou àquele país milhares demédicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, além de muitos medicamentos e vacinas. Muitos deles ainda hoje lá se encontram.


Os médicos cubanos, ao desembarcarem no Brasil, demonstravam satisfação e traziam nas mãos bandeiras do Brasil e de Cuba. Foram recepcionados por representantes das entidades mais representativas da sociedade brasileira como a União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes, União da Juventude Socialista (UJS), Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST),  Associação de Amizade Brasil-Cuba, Centro Brasileiros de Apoio às Lutas dos Povos e pela Paz ( Sebrapaz) dentre outras.


Umas poucas patricinhas de jaleco branco, de maneira grosseira e reprovável, xingaram os médicos estrangeiros, em especial os cubanos, chamando-os de despreparados e mão de obra escrava. Como despreparados se em Cuba o trabalho por eles desenvolvido garante o menor índice de mortalidade infantil de todas as Américas- 4,5 por mil nascidos vivos – menos que os Estados Unidos e o Canadá, os mais ricos. “Essas patricinhas nos envergonham”, é o que se vê nas redes sociais.


Chega de xenofobia!

Messias Pontes é jornalista


Artigo publicado no jornal O Estado e reproduzido neste site com autorização do autor


 

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