A condição de sexta potência econômica mundial representa para o Brasil mais um desafio que uma conquista. A nova posição no ranking dos países ricos perde todo o sentido quando se desvia o olhar dos números do Produto Interno Bruto (PIB) e se encara a realidade social a nossa volta.
Pouco adianta bater recordes de crescimento econômico, expandir o comércio externo e conquistar prestígio nos fóruns internacionais se, internamente, a dívida representada pela pobreza extrema, pelo analfabetismo, pela doença e pela negação da dignidade está longe de ser resgatada.
Em 500 anos de história, uma sucessão de governos conservadores criou um dos países mais desiguais do planeta. Hoje, convivemos com uma realidade absurda, em que os 10% mais ricos açambarcam 28 vezes a renda dos 40% mais pobres. E nem nos indignamos ao ver crianças pedindo esmola nas esquinas.
Luiz Inácio Lula da Silva foi o primeiro a achar que não podia ser assim. E desviou para os pobres as atenções que sempre haviam sido destinadas aos abastados. Criou o maior programa de distribuição de renda já ensaiado no mundo. E deu certo.
O dinheiro público, nas mãos de quem passava fome, foi aportar na bodega da esquina, gerando empregos e impostos. As obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) entraram em cena. A roda da economia começou a girar mais rápido e, aos poucos, os benefícios se distribuíram por toda a sociedade. Ficamos menos desiguais.
Mas ainda há muito a ser feito. O passivo era enorme e a distância que nos separa dos países centrais ainda é quilométrica. Quem dera tivéssemos metade do padrão de conforto, educação, saúde, moradia – e consciência política – dos ingleses, que ficaram para trás no ranking dos mais ricos.
Em seu slogan, o governo Dilma Rousseff admite que “país rico é país sem pobreza”. A presidente reconhece que o combate à miséria precisa continuar e já anunciou que a política de distribuição de renda será aprofundada. Decisão louvável.
Mas a potência emergente precisa entender tal estratégia como etapa provisória na luta pela superação das injustiças sociais. A melhor sinalização do sucesso dessa política será sua progressiva contração, até a extinção definitiva.
No dia em que todos os brasileiros puderem caminhar com as próprias pernas, no rumo da dignidade, somente nesse dia, a condição de potência mundial ganhará sentido.
* Artigo publicado originalmente no jornal O Povo de 17 de janeiro de 2012 e reproduzido neste site com autorização do autor
Italo Gurgel é jornalista – italogurgel@yahoo.com.br