A carta do Encontro Mundial de Blogueiros trouxe algumas notícias para um Brasil que não se vê ou que não se percebe nas mídias privatizadas e governamentais autoritárias, pouco afeitas à promoção da cultura, ao estímulo à cidadania e ao fortalecimento da democracia. São novidades que logo vão chegar a outros territórios, os mais distantes e isolados do planeta, a lugares onde haja alguém oferecendo um site, um blog, um Facebook ou um Twitter como canal de informação e expressão e como nó de novas conexões e relações.

O encontro dos blogueiros, por uns chamados de “progressistas” e por outros de “sujos”, foi realizado de 27 a 29 de outubro passado, no cine-teatro da hidrelétrica Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu (PR), com a participação de representantes de 123 países e de 17 estados brasileiros. Terminou sem a presença do ministro das Comunicações Paulo Bernardo, que fora convidado para explicar o projeto do governo frente ao tema O papel da blogosfera na construção da democracia, colocado em pauta pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e pelo Altercom.

Vamos às notícias. O encontro de blogueiros, como afirma a carta, “confirmou a força crescente das chamadas novas mídias”. Estas são novas pela capacidade que têm de fazer circular o poder e a informação, porque dão voz aos antes mudos, possibilitam conexões desterritorializadas antes inatingíveis e facilitam diálogos horizontais antes inimagináveis entre iguais e diferentes. E, assim sendo, delimitam um novíssimo espaço público político.

A carta informa também sobre o caráter de movimento social da blogosfera progressista. Afirma que o encontro “evidenciou que as novas mídias podem ser um instrumento essencial para o fortalecimento e aperfeiçoamento da democracia”. O documento relata ainda que os blogueiros participantes reafirmaram cinco pontos como “prioridades” na luta que abraçam como movimento social, os quais devem nortear os discursos e ações até o encontro do ano que vem.

O primeiro ponto é o da “liberdade de expressão, que não se confunde com a liberdade propalada pelos monopólios midiáticos, que castram a pluralidade informativa”. Ao contrário, como ficou claro nas conversas travadas entre uma guarânia e outra nos bares da avenida Brasil (que bela coincidência!), deve ser entendida de forma irrestrita, dialógica, podendo ser exercida através de velhas ou novas mídias, por meios privados, públicos ou comunitários.

O segundo ponto é o do repúdio a “qualquer tipo de censura ou perseguição política dos poderes públicos e das corporações do setor” midiático contra blogueiros. É uma menção clara à justiça com as próprias mãos que ainda hoje fazem os coroneis estelionatários da política pelo interior do país, quando se sentem ameaçados pela informação. Ou à “judicialização da censura” promovida pelos empresários da comunicação dos grandes centros, ao perderem público e credibilidade.

O terceiro exige que os governos dos países criem novos marcos regulatórios de forma a serem indutores da comunicação democrática. Em outros termos, reivindica que “incentivem os meios públicos e comunitários; impulsionem a diversidade e os veículos alternativos; coíbam os monopólios, a propriedade cruzada e o uso indevido de concessões públicas; e garantam o acesso da sociedade à comunicação democrática e plural”.

Num item específico, o quarto, a carta pede com ênfase que os Estados nacionais garantam o acesso universal à banda larga de qualidade, o que ainda não ocorre no Brasil, de forma que a internet não seja um privilégio só dos “monopólios privados”. Porque, defendem os blogueiros, “a internet é estratégica para o desenvolvimento econômico, para enfrentar os problemas sociais e para a democratização da informação”.

A quinta prioridade é uma referência à luta “contra qualquer tentativa de cerceamento e censura na internet”, como o bloqueio à banda larga imposto pelos EUA a Cuba. E se completa com bandeiras que ampliam a atuação do movimento: “Pela neutralidade na rede e pelo incentivo aos telecentros e outras mecanismos de inclusão digital. Pelo desenvolvimento independente de tecnologias de informação e incentivo ao software livre.”

Muitas bandeiras, muitas frentes, muitas notícias de uma luta que está só começando. E que certamente será mais difícil, à medida que os blogueiros enfrentem de fato governos cúmplices – ou negligentes – com o projeto privado de não informar, de desinformar, de não abrir canais de diálogo com a sociedade e de restringir as expressões das minorias. Talvez seja preciso marchar já, dar movimento ao movimento. Talvez seja necessário ocupar já o espaço que lhe cabe na política.

Como participante do #BlogMundoFoz, fico lembrando da força que tem a água represada no lago de Itaipu. E da energia que ela gera para este país, depois que encontra o caminho das comportas. Fico pensando que aquela água livre encontra um rio, que arrasta terras pelas margens e também se molda ao relevo intransponível, que salta abismos e que também corre tranquilo para outros rios, antes de desaguar no mar. Isso é que é mo-vi-men-to.

* Artigo reproduzido neste site com autorização do autor

* Alberto Perdigão é jornalista, mestre em Políticas Públicas e Sociedade, escreve sobre políticas de comunicação e comunicação na política. aperdigao@terra.com.br

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