Com 28 anos e distante do Brasil pelo qual lutou, o cearense Frei Tito de Alencar Lima findava sua vida, numa pequena cidade da França, em 1974. Seu último registro, um bilhete: só posso viver se morrer. Na História, ficou marcado pela luta contra a ditadura militar. Em vida, nos seus últimos anos, carregou no peito e na mente uma bagagem de dores. O sofrimento causado pela tortura imposta nos porões militares deixou marcas que o tempo não conseguiu abrandar.


É neste contexto que as jornalistas Leneide Duarte-Plon e Clarisse Meireles reconstituem a vida de um dos mais emblemáticos personagens da luta contra a ditadura militar. Completando 40 anos da morte do frei dominicano, a Editora Civilização Brasileira, do Grupo Editorial Record,  lança o livro  “Um homem torturado – Nos passos de frei Tito de Alencar”, com base em ampla pesquisa e nas mais de 30 entrevistas realizadas no Brasil e na França. Segundo a editora, a obra é uma reportagem biográfica que aborda, sobretudo, a militância política de Tito, passando pela prisão, a tortura que o destroçou psicologicamente, o exílio, até o seu suicídio.


As autoras ouviram pessoas que estiveram presas com ele em São Paulo e religiosos que conviveram com ele no Convento Sainte-Marie de La Tourette, em Lyon, até a sua morte. Pela primeira vez o psiquiatra e psicanalista Jean-Claude Rolland, que tratou de Tito de Alencar Lima na França, é entrevistado para falar do frade brasileiro. Para conhecer a gênese da fé e da consciência política de Tito, Leneide e Clarisse conversaram com Nildes de Alencar Lima, a irmã que o criou e testemunhou a sua transformação em uma visita realizada ao convento em L’Arbresle no final de 1973. Ao encontrá-lo, ela “viu apenas a sombra do Tito que conhecera”. Outro depoimento importante é o de Xavier Plassat, frade muito próximo a Tito em seu último ano de vida.


  “Tito se tornou um símbolo de todos os torturados que se suicidaram e também dos que seguiram vivendo mergulhados nas trevas das salas de tortura ou com sequelas físicas ou mentais. Penso que devemos contar a história dele também por todos os Titos que sofreram e sofrem ainda a tortura no Brasil e no mundo. E a história da ditadura deve ser contada para que a defesa da democracia seja uma preocupação de todos os brasileiros”, afirma Leneide.

Sobre o livro

A obra resgata a trajetória política do frade. A narrativa conduz o leitor a descobrir o homem que optou pela luta sem armas para não ficar calado diante da ditadura. Armado apenas com seus ideais de justiça social, Tito se tornou mártir da resistência contra o regime militar.

 

 “Ao narrar a história de frei Tito a partir de um estudo exaustivo, Leneide e Clarisse fazem, no entanto, mais do que a reconstrução de processos históricos. Em certo momento, elas se lembram desta afirmação feita por um torturador a Tito: ‘Se não falar, será quebrado por dentro, pois sabemos fazer as coisas sem deixar marcas visíveis.’ Na verdade, tal frase sintetizava de maneira precisa a natureza da violência e da máquina criminosa produzida pela ditadura brasileira”, analisa Vladimir Safatle no prefácio do livro.

 

Com informações da Editora Civilização Brasileira

 

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