Divulgado em março deste ano, o relatório do Monitoramento de Autismo e Deficiências do Desenvolvimento, do Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC), revelou que 1 em cada 36 crianças aos 8 anos de idade é diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O número representa um aumento de 22% em relação ao estudo anterior, divulgado em dezembro de 2021, que estimava que 1 em cada 44 crianças apresentava TEA em 2018.
Ao transpor essa prevalência para o Brasil, podemos calcular o número de pessoas com TEA no país. Com uma população estimada em cerca de 215.902.000 habitantes, segundo dados de abril de 2023 do IBGE, dividir esse número por 36 e multiplicar pelo valor percentual encontrado nos EUA (2,777…%) resulta em cerca de 5.997.222 pessoas vivendo no espectro autista no Brasil.
De acordo com o Manual Estatístico e Diagnóstico de Transtornos Mentais, autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que traz dificuldades de comunicação, interação social e déficits na reciprocidade sócio emocional. Crianças com TEA podem apresentar alterações e atrasos em várias áreas do desenvolvimento, dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginativas e apresentar rigidez cognitiva.
Segundo Danielle H. Admoni, psiquiatra geral e da Infância e Adolescência; supervisora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria); desde muito jovens, somos condicionados a ter múltiplas percepções sensoriais, simultaneamente.
“Entretanto, uma criança com TEA enfrenta dificuldades em processar estímulos sensoriais, seja por hipersensibilidade ou hipossensibilidade. Muitas vezes, crises de choro são resultado da imaturidade do sistema neurológico em lidar com determinadas situações. No caso das crises sensoriais, o choro é um sinal de sobrecarga, ou seja, muitos estímulos, ao mesmo tempo, atordoam a criança com TEA”, explica Admoni.
Daí a importância de criar um espaço em casa especialmente projetado para desenvolver suas habilidades, além de ser um refúgio quando houver excesso de estímulos que possam causar perturbação. O ideal é contar com a ajuda do especialista que já acompanha a criança, pois este saberá personalizar o ambiente de acordo com suas necessidades. Segundo a psiquiatra, o primeiro passo é escolher um cômodo da casa menos exposto a uma possível sobrecarga de estímulos.
No ambiente escolhido, coloque apenas móveis resistentes e seguros, evitando objetos frágeis ou que possam representar algum perigo para seu filho. Portanto, retire tudo que ofereça risco e deixe somente uma mesa pequena com duas cadeiras, para atividades como desenho, escrita, modelagem, pintura e jogos de tabuleiro. “Aposte ainda em almofadas, redes, bolas, pufes, lousa de canetinha, balanço e prateleira com livros interativos”.
Danielle Admoni sugere também que as paredes sejam de cor neutra e sem quadros ou cartazes, a menos que sejam relevantes para as atividades. Pisos confortáveis e fáceis de limpar, como borracha, E.V.A. ou vinil, são especialmente importantes para o trabalho com crianças pequenas, já que muitas atividades e brincadeiras serão realizadas no chão.
Além disso, ela recomenda a colocação de um espelho na parede, acima do piso ou rodapé. O objetivo é motivar o contato visual indireto com a criança, além de auxiliar na autopercepção corporal. “Outra boa dica é criar uma caixa sensorial em que a criança possa colocar as mãos para sentir o que tem dentro, estimulando a imaginação, a coragem, a associação de ideias, a sensibilidade e a memória. Dentro da caixa, podem ser colocados algodões, folhas secas, flanelas, embalagens de presentes e outros tipos de materiais com texturas bem características, como gelado, duro e áspero”.
Além dos brinquedos que seu filho já tiver, é possível confeccionar outros, improvisando com diferentes materiais, como caixas de papelão, panos, baldes, potes e garrafas de plástico. “Um ponto importante é que os objetos ao redor proporcionem liberdade de explorar e interagir com demais elementos. Todas essas vivências incentivam os sentidos, a percepção de espaço, a criatividade, a capacidade de concentração, o controle das emoções, a coordenação entre a visão e a ação, entre outros benefícios essenciais para o desenvolvimento das crianças com TEA”, finaliza Danielle Admoni.