A primeira vez em que vi João Ubaldo Ribeiro estava na Bahia. Participava de um congresso de escritores e João Ubaldo foi chamado para dar uma palestra. Ali estava ele, com sua voz inconfundível e seu ar de baiano puro. João Ubaldo, nessa época, ainda não era conhecido, nacionalmente. Morava em Salvador, inclusive, e se resumiu a dar algumas informações sobre literatura baiana. Mais tarde, quando morei na praia do Leme, Rio de Janeiro, empurrado por meu avô que tinha o hábito de mandar os filhos e os netos para aquela cidade, ouvi falar de João Ubaldo Ribeiro novamente. Desta vez por intermédio de Jorge Amado.


Convidado para participar da posse de Dias Gomes na Academia Brasileira de Letras, lá estive, no meio dos acadêmicos que desfilavam por aquela casa com seus fardões vistosos e seu sorriso de imortal. Indicado por Dias Gomes para o receber na ABL, Jorge Amado subiu à tribuna e, depois de falar do socialismo e do sonho de Karl Marx que, segundo ele, não acabou com o fim da União Soviética, falou do autor de “O Pagador de Promessas” e de “O Bem Amado” e, em seguida, de João Ubaldo. Estava certo de que, um dia, seu conterrâneo entraria na Academia Brasileira de Letras assim como Dias Gomes que, por sinal, também era seu conterrâneo. Terminado o discurso de Jorge Amado, que foi feito com o fardão aberto porque o corpo do escritor de 1991 não era mais o mesmo de 1961, quando o envergou pela primeira vez, o autor de “Dona Flor e Seus Dois Maridos” sentou-se e ficou calado.


Com a morte de João Ubaldo Ribeiro recentemente, tudo isso me voltou à mente. A sua voz de barítono durante a conferência que fez na Bahia para um grupo de escritores ainda jovens, a sua indicação para a Academia Brasileira de Letras por parte de Jorge Amado durante a posse de Dias Gomes e, em seguida, as crônicas do escritor baiano que, como adorava Itaparica, onde nasceu em 1941, fez dela e das pessoas que moravam nesta ilha, a sua pequena Macondo.


Recentemente, morreu Ivan Junqueira, outro acadêmico. Jorge Amado, assim como Dias Gomes, também morreram. O primeiro com 79 anos, o segundo, novo ainda para os padrões de hoje e a forma simpática com que lidava com as pessoas. Dias Gomes estava com 77 anos quando morreu naquela noite fatídica em São Paulo. Pegou um taxi e, durante a viagem, o carro no qual se deslocava foi atropelado por outro. Dizia Austregésilo de Athayde, que também conheci e com o qual fiz uma longa entrevista na própria Academia Brasileira de Letras, que os escritores não morrem. Encantam-se. Parodiava, naturalmente, Guimarães Rosa. João Ubaldo Ribeiro, Dias Gomes, Jorge Amado, Ivan Junqueira e o próprio Austregésilo de Athayde não morreram, portanto. Encantaram-se.


Natalício Barroso é jornalista e escritor

    


 

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