O Nordeste inteiro tem homenageado Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, no ano do seu centenário de nascimento. Razões para tanto não faltam numa região que, graças à música e à voz de Luiz, revelou, para muitos brasileiros que simplesmente a ignoravam, seus dramas sociais e climáticos. Se na atualidade ainda há tanta discriminação contra o Nordeste e os nordestinos, imagine-se nas décadas de 40 e 50 do século passado, quando, em razão das secas inclementes ou enchentes torrenciais, o sertanejo partia com sua família rumo a São Paulo e a outros Estados do Sudeste, onde contribuiu, com sua força de trabalho, para o progresso dessas regiões.


 


Através de sua música, Luiz foi a voz desta parte do país e de seu povo, denunciando o abandono por parte do poder central e a vida sofrida do homem do campo, escorraçado da terra natal pela estiagem intensa ou a força das intempéries. Suas composições, em parceria com nomes famosos como Zé Dantas ou o advogado cearense Humberto Teixeira – cognominado o Doutor do Baião -, entre tantos outros, também decantaram a religiosidade do povo, os costumes sertanejos, a cultura popular. Sem dúvida, Luiz será sempre a alma do Nordeste. Sua extensa discografia, de 1956 a 1989 – ano de seu falecimento -, é riquíssima em canções que desnudaram para o restante do Brasil as dificuldades vividas pelos nordestinos diante da insensibilidade dos governantes que se revezavam no poder.


 


O poema “A Triste Partida”, por exemplo, do cearense Patativa do Assaré (1909-2002), musicado por Gonzagão em 1964, relata a vida do sertanejo, desde a espera pela chegada da chuva, passando pela confirmação de mais uma seca e a urgência de deixar o sertão rumo a São Paulo com a família, onde se depara com outro tipo de dificuldades – o desemprego, entre elas – , e as saudades da sua terra. Com sua longa trajetória artística, desde os anos 40 até 1989, Luiz popularizou o autêntico forró pé-de-serra, que passou a ter seu dia nacional, instituído pela lei 11.176/2005, exatamente a 13 de dezembro, data de nascimento do sanfoneiro. Por tudo isso e muito mais, o Nordeste tem, para com Luiz, eterno preito de gratidão e reconhecimento.


 


Artigo publicado no jornal Diário do Nordeste de 4 de novembro de 2012 e reproduzido neste site com autorização do autor


 


* Gilson Barbosa é jornalista – gilson@tre-ce.gov.br

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