A teoria da carroça nada tem ver com o período que as montadoras de veículos vendiam carros ultrapassados por preços de novos modelos  no Brasil. Alegavam que eram carros “nacionais”. Ficaram conhecidos, graças ao estriônico presidente da época, por carroças. Há uma outra carroça. Ela é um veículo puxado por um animal, ou por um ser humano se for um rikisha . Para que ela possa ser útil, carregar pessoas e objetos, é necessário que tenha duas rodas. Ainda que possam sustentar pesos diversos, encontrarem obstáculos diferentes, sem as duas, nada feito. Se uma sofre uma avaria a outra também para. Não é possível prosseguir com uma só roda. São necessárias as duas. Precisam rodar na mesma velocidade, salvo quando o veículo faz uma curva. Uma anda um pouco mais, mas logo a outra compensa. Enfim as duas rodas são o melhor exemplo de cooperação, sintonia, parceria e aliança. Nenhuma pode reclamar que trabalha ou leva mais peso que a outra e tem consciência que juntas promovem o movimento, separadas são apenas duas rodas jogadas e apodrecidas no fundo do quintal.

 

A teoria da carroça vale para o cotidiano dos seres humanos. Levar uma missão à frente é muito mais difícil quando se está sozinho. É muito mais fácil quando há um parceiro, seja ele uma ou várias pessoas. Este princípio se aplica na liderança de qualquer iniciativa, seja educativa ou corporativa. Um líder e seu time são as  duas rodas da carroça. Por isso formam um conjunto apoiado na confiança total um no outro. Há necessidade de uma sintonia íntima entre os dois para que o carro avance em direção a uma meta predeterminada. Sem líder ou sem time é condenar a carroça à imobilidade, com uma única roda não se chega a lugar nenhum. Uma disputa direta entre os dois polos condena o projeto ao insucesso, e é em um momento como esse que o interesse pessoal, o ego, compromete totalmente o resultado. É uma ilusão pensar que se pode chegar a algum lugar sozinho. Isto pertence ao mito dos super heróis, da ficção, quando alguém provido de super poderes é capaz tanto de ameaçar como salvar a civilização.


Aparentemente alguns líderes chegaram ao seu objetivo sozinhos. Criaram essa imagem de senhores absoluto do destino,  sozinhos foram capazes de forjar o futuro. Ainda que em um vídeo apareça apenas um único rosto falando, atrás há um conjunto responsável não só pela transmissão como pelo conteúdo do que está sendo dito. A marionete não se mexe sozinha. Levantada a cortina se vislumbra a mão e os fios que fazem o pequeno boneco dançar. Comparar formas de liderança com o andar de uma carroça – nem ao menos a uma carruagem – pode parecer um exagero. Mas não é ainda que a simbologia remeta a tempos antigos quando o transporte era feito sobre veículos tão rústicos. No entanto os exemplos são atualíssimos. Nada mais destrutivo para o andar da carroça do  que imaginar que não é necessário dividir com ninguém os sucessos, as glorias, mas apenas os fracassos. A centralização é uma atitude que reflete uma armadilha da mente. Ela á a arquiteta dos sucessos efêmeros, desagregadores e que conduzem o empreendimento, seja qual for, a um final infeliz.


Heródoto Barbeiro é escritor e jornalista da RecordNews e R7.com – herodoto@r7.com

*Artigo publicado no blog do autor (noticias.r7.com/blogs/herodoto-barbeiro) e reproduzido com sua autorização

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here