A catástrofe que se abate sobre o povo japonês tem sensibilizado o mundo inteiro. De todos os cantos, um olhar de preocupação e medo. Uma sensação amarga e tétrica de fim do mundo. A um observador mais atento, chama atenção a maneira serena e solidária como aquele povo consegue enfrentar adversidades tão cruentas. Não se tem registrado cenas de pânico ou desespero.
O jornalista Philippe Mesmer, do Le Monde, radicado a muitos anos no Japão, conversou, num chat, com leitores franceses. Uma das perguntas insistentes foi: como o povo japonês consegue mostrar tanta coesão? Isso é fruto de treinamento? Preparação para enfrentar adversidades?
A resposta convida a uma grande reflexão: “Eu penso que eles reagem dessa forma por causa da educação. Desde pequenos, a escola lhes transmite o valor do grupo. Aprendem a fazer coisas juntos, a viver em grupo, a viver em sociedade. Pertencer a um grupo é importante na sociedade japonesa. E eu explico a calma, a ausência de pânico dos japoneses por esta educação que faz com que eles prefiram se mobilizar juntos, suportar juntos do que perturbar o conjunto da sociedade. Eu creio que existe uma forte coesão entre os japoneses.(…) E, até agora eu ainda não ouvi falar de movimento de pânico.”
Não desejo fazer comparações. Estas quase sempre são odiosas. Mas, como pauta do livre pensar, bem que poderíamos trazer o caso para a realidade brasileira. Será que – em nossas famílias, comunidades e sociedade – estamos construindo, com os nossos jovens, a busca de um “viver juntos”? Partilhamos sentimentos, sonhos, decepções e vitórias? Ou estimulamos a competição? O “levar vantagem em tudo”. O salve-se quem puder. O importante é ganhar?
No Japão, o povo soube construir uma nação, edificar um progresso fabuloso, onde tudo parecia extremamente adverso. E, agora, nessas horas de dor e mobilização, eles sabem enfrentar juntos e fazer da solidariedade sua força maior. Lembrei-me da música de Antonio Carlos Jobim (Wave): ”É impossível ser feliz sozinho!”
* Artigo publicado em 19.03.2011 no jornal O Povo e reproduzido neste site com autorização do autor.
Antonio Mourão Cavalcante é Médico, antropólogo e professor universitário – a_mourao@hotmail.com