A frase passou de boca em boca, caiu no domínio do povo e virou sabedoria popular: “O diamante é um pedaço de carvão que saiu bem sob pressão”. Esse processo chama-se “Dor” e revela-se, igualmente, na tristeza do amante, na penúria da miséria, na orfandade abandonada, na viuvez prematura, na morte do ente querido, na mutilação dos valores morais, na tragédia da desonra, no aviltamento da prostituição, no fracasso dos ideais, nas perdas e desilusões da vida.

No entanto, é esse o mecanismo que promove o grande aprendizado, possibilitando o incessante aprimoramento do espírito humano, através do qual o sofrimento purifica e redime. Como a pedra preciosa que sofre dilapidações sob o buril do lapidário até alcançar a beleza, a alma necessita passar pela desventura da Dor para tornar-se sábia e virtuosa. É indispensável, para tanto, seguir a trajetória da evolução, libertando-se das paixões e dos prazeres enganosos. Toda a caminhada é dolorosa e lenta. Dilacera-se o coração, tortura-se o mais íntimo do ser, porém o destino é imortal, as bem-aventuranças serão eternas e os méritos terão real significado.

Por conseguinte, a Dor é, para a ascensão humana, o que o sol é para a escuridão da noite. A criatura que ainda não sofreu é como a personagem da poesia que diz: “Quem passou pela vida em brancas nuvens e em plácido repouso adormeceu, quem não sentiu o frio da desgraça, foi espectro de homem e não foi homem, passou pela vida e não viveu”. O sofrimento, pois, é um inestimável componente de regeneração humana, que purifica o sentimento, ameniza o orgulho, combate o egoísmo, dissolve a intriga, enfraquece as ambições, promove a concórdia, aproxima os desafetos, disciplina a brutalidade e controla os instintos inferiores.

As efêmeras ilusões da Terra e os apetites degenerados, que se manifestam na carne, são meros condicionamentos instintivos e seus idólatras são os mais necessitados de amor. Só a Dor é capaz de libertar, de fazer brotar o amor em sua plenitude e de manifestar a autenticidade dos que se tornam, efetivamente, filhos de Deus. De conseguinte, sua intervenção é imprescindível para disciplinar pensamentos e ações e purificar o caráter. É inestimável o seu valor educativo. Seu método pedagógico é infalível para impulsionar a Humanidade nos caminhos da perfeição.

Em última análise, a Dor pode ser considerada sublime, como experiência estética que suscita no sujeito um tipo especial de sentimento, que vai além da finitude da sensibilidade humana, cuja missão consiste em ser suporte de todos os atributos evolutivos da trajetória espiritual do ser.

– Artigo publicado originalmente no jornal O Estado, de 26 de abril de 2011, no jornal O Povo de 1 de maio de 2011 e reproduzido neste site com autorização do autor.

* Edilson Santana é professor de Filosofia e promotor de Justiça – edilsonsantanag@hotmail.com

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