A definição generalizada de juventude é uma forma de manipulação. Os jovens de uma mesma geração podem compartilhar ou não vivências e crenças semelhantes. Devemos falar de juventudes, que convivem diversamente num mesmo tempo, com experiências múltiplas. Cristalizar uma “juventude ideal” é cercear criatividade e formas de expressões inovadoras. Uma opção que faço é perceber o potencial positivo das juventudes, vislumbrando-as como exemplos de revitalização social. As juventudes podem apresentar atitudes não compreensíveis, em resposta a uma sociedade repleta de regras. Enquanto “construtores de um mundo que se renova” (Mannheim, 1982), e contribuir muito, em especial, com projetos para e pela paz.
É imprescindível dar visibilidade à nossa escolha, da forma que pudermos, através da divulgação de experiências bem sucedidas, sobre a paz, em instituições diversas (Matos, 2006; Matos, Nascimento, 2006; Matos, Nonato Junior, 2006). A Educação para a Paz é um processo permanente. Somos os sujeitos que podem instaurar esse processo, assumindo-o enquanto construtores coletivos, ou seja, não é possível pensar em paz individual. Somos os responsáveis pela construção de culturas de paz.
É preciso desnaturalizar o conceito de paz, para compreendê-lo como “um valor que está relacionado a todas as dimensões da vida” (Jarez, 2002, p.131). A paz não é a ausência de conflitos, como muitos ainda acreditam. Podemos lidar com os conflitos, através da cooperação e da compreensão. A educação para a paz é a educação para o diálogo, a compaixão, a tolerância, o acolhimento do outro. “(…) O que a tolerância autêntica demanda de mim é que respeite o diferente“ (Freire, 2004, p.24). Educar para a paz é cuidar de si e do outro, na construção do conhecimento em que está presente a “razão cordial”, a reconexão com tudo e com todos (Yus, 2002).
Reconhecer e acolher a espiritualidade dos jovens, e das pessoas em geral, é ter a oportunidade de educar o sujeito integral, em suas múltiplas dimensões, alimentando seus diversos potenciais. Os sistemas educacionais necessitam colocar foco na dimensão afetiva (Tillman; Colomina, 2004), para que possamos construir “um sistema educativo que supere a contraposição entre razão e emoção”. O aprendizado de estabelecer conexões consigo e com os demais, faz com que o educador transforme-se num guia para os jovens alunos. Passa, então, a ser uma pessoa seminal, ou seja, funciona como semente que alimenta o mergulho em si mesmo, o que faz com que se sinta parte do todo (Boff,2006).
Referências
FREIRE, Paulo..Pedagogia da Tolerância. Organização e Notas Ana Maria Araújo Freire. São Paulo: UNESP, 2004.
JARES, Xesus R. Educação para a paz: sua teoria e sua prática. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.
MATOS, Kelma Socorro Lopes de. Juventude, paz e espiritualidade: opção por uma prática educativa ético-amorosa In IBIAPINA, Ivana Maria Lopes de Melo; CARVALHO, Maria Vilani Cosme de (Orgs). IV Encontro de Pesquisa em Educação da UFPI .A pesquisa como mediação de práticas sócio-educativas. Teresina : EDUFPI, 2006b(p.167-178).
MATOS, Kelma Socorro Lopes de; NASCIMENTO; Verônica Salgueiro do.Construindo uma cultura de paz: o projeto paz na escola em Fortaleza. IN MATOS, Kelma Socorro Lopes de (Org.). Cultura de Paz, Educação Ambiental e Movimentos Sociais: ações com sensibilidade. Fortaleza: Editora UFC, 2006 (p.26-35).
MATOS, Kelma Socorro Lopes de; NONATO JUNIOR. Raimundo. Escolas, paz e espiritualidade: transversalidades na educação. IN MATOS, Kelma Socorro Lopes de (Org.). Cultura de Paz, Educação Ambiental e Movimentos Sociais: ações com sensibilidade. Fortaleza: Editora UFC, 2006 (p.17-25).
MANNHEIM, Karl. O problema sociológico das gerações. In Mannheim. FORACCHI, Marialice (org.) São Paulo: Ática, 1982 (p.67-95).
TILLMAN, Diane e COLOMINA, Pilar Quera. Programa Vivendo Valores na Educação – Guia de capacitação do educador. Editora confluência: São Paulo, 2004.
YUS, Rafael..Educação Integral: uma educação holística para o século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2002.
Kelma Socorro Lopes de Matos
– Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará