Quando fui ao Rio de Janeiro em 2007 tive a oportunidade de conhecer o trabalho do grupo cultural Afroreggae. Sob o lema a “A cultura é nossa arma“, a proposta do grupo é diminuir os índices de violência por meio de ações de arte e cultura, além de aproximar os jovens da polícia. Este último desafio nasceu do improvável. Após uma chacina (cometida no ano de 1993 por um bando de policiais) que vitimou 21 moradores da favela de Vigário Geral, José Junior, líder do grupo Afroreggae, e seus parceiros decidem lançar o Projeto Juventude e Polícia.


Recentemente retornei ao Rio, agora para participar do prêmio “Polícia Cidadã“, uma iniciativa da Universidade Cândido Mendes, em parceria com o grupo Afroreggae. Mais uma vez encontrei o José Júnior, otimista com a iniciativa que poderia contribuir para modificar o perfil da polícia do seu Estado. O evento premiou os policiais que realizam trabalhos comprovadamente eficazes no combate à criminalidade, mantendo posturas éticas.


Todavia, quando ouvi a notícia da morte de Evandro (um dos coordenadores do Afroreggae) fiquei chocado. Porém, nada comparado com os sentimentos de indignação e vergonha que me acometeram após a divulgação das imagens de um circuito de segurança privado, mostrando a omissão de policiais na prestação de socorro à vítima, bem como fundadas suspeitas do envolvimento de policiais militares com o crime.


Segundo uma expressão usual na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, a polícia se define como uma “delgada linha azul“ & the thin blue line & que separa a civilização da barbárie. Quando essa instituição contribui para a barbárie temos uma tragédia. Como foi o caso do Rio de Janeiro.


Percebe-se que aproximar a instituição policial da comunidade é uma missão árdua, mas possível, como estamos acompanhando através do Programa Ronda. É evidente que não podemos aprovar erros cometidos por policiais, porém não devemos condenar toda a instituição pelo erro de alguns de seus integrantes, nem tampouco transferir um erro local e transformá-lo em um fenômeno nacional.


* Artigo publicado em 27.10.2009 no jornal O Povo e reproduzido neste site com autorização do autor.




Plauto R. de Lima Ferreira

– Oficial da Polícia Militar do Ceará e membro da Rede Latino Americana de Polícia e Sociedade.

plautoroberto@gmail.com

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