O imensurável sofrimento do povo haitiano não encontra paralelo na história. O país que veio abaixo com o terremoto do dia 12 já era, de há muito, uma terra destruída – mais pela fúria dos homens do que pela da natureza.


Primeira nação negra a conquistar a independência, o Haiti pagou caro por essa ousadia. Logo sofreu bloqueio pela frota francesa, viveu um ciclo interminável de instabilidade política e foi invadido por tropas norte-americanas. Já na segunda metade do século passado, conheceu a feroz ditadura de “Papa Doc“ e “Baby Doc“, que se manteve por três décadas no poder.


Espoliado, economia destroçada, subjugado pela violência e a extrema pobreza, o Haiti foi novamente ocupado, em 1994, pelos EUA. Em 2004, o agravamento da situação levou a ONU a despachar uma força de paz, confiando seu comando ao Exército brasileiro. Vem daí o envolvimento mais estreito do Brasil com o pequeno país insular.


Há, no momento, uma tragédia indescritível se desenrolando no Caribe e a ninguém é dado ignorá-la. Vivemos em um mundo globalizado não só para usufruir da circulação mundial de riquezas, mas também para compartilhar a dor das populações que sofrem e procurar minorar seu infortúnio, em situações como a que se apresenta no Haiti. Não se trata de exercitar a solidariedade como preceito religioso, mas de encará-la como um sentimento humano natural.


Tudo o que o Governo e o povo brasileiro puderem fazer, em socorro aos haitianos, será pouco. Outro dia, ouvi no rádio comentários de alguém que criticava o aporte dos recursos destinados pelo Brasil à ajuda humanitária. Alegando que aqui também existe miséria, o comentarista se apoiava na máxima que tanto tem acobertado, em nosso país, os favorecimentos ilícitos: “Mateus, primeiro aos teus“. Lamentável pobreza de espírito!


Quanto mais alto ecoa o clamor de quem necessita de ajuda, mais abominável se afigura o espírito mesquinho.


* Artigo puiblicado em 22.01.2010 no jornal O Povo e reproduzido neste site com autorização do autor.

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