Discordo do Belchior, o passado é uma roupa que sempre há de nos servir. Muita gente pensa que o nome que deu nome ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, seria um “bichinho mitológico“, daqueles dragões que botam fogo pelas ventas. Qual nada! Dragão do Mar é o apelido do cearense de Canoa Quebrada, nascido Francisco José do Nascimento, conhecido como Chico da Matilde e reconhecido Dragão do Mar.
Nas batalhas libertadoras do Ceará ele trouxe notável contribuição em fatos ocorridos entre 1879 e 1884 & pela chama abolicionista lidera um movimento que impede o embarque de escravos através de jangadas até os navios negreiros, que levariam “a mercadoria“ ao sul do País. Aconteceu na praia do Peixe, hoje Praia de Iracema: homem simples, ele teria proferido duas palavras mágicas: “Ninguém embarca!“
E o Ceará tornou-se a primeira província do Brasil a abolir a escravidão em 1884, numa resistência popular vitoriosa de efeitos vultosos.
Dragão do Mar e sua jangada “Liberdade“ são levados a bordo de um navio comercial para méritos na corte. Conta a história que a jangada Liberdade foi recebida no Museu Nacional como valiosa peça etnográfica; depois transferida para o Museu da Marinha, desmontada, queimada e desaparece entre os mistérios do Império.
Se não sabemos o destino da Liberdade é fundamental saber a importância da passagem histórica, que nos ocupa o imaginário, como vitória da solidariedade entre raças e credos. E ainda hoje ponderamos diferenças entre compreensão e tolerância. É bom que o passado não seja apenas uma roupa que não nos serve mais; dele extraímos nossa cultura, vestígios do que somos e extrato de nossa história, pistas da razão na permanente batalha pela Liberdade. O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, por sua vez, resgata a história de Chico da Matilde com o concurso Dragão do Mar de teatro, fotografia e redação, com inscrições até 30 de abril de 2010.
* Artigo publicado em 27.04.2010 no jornal O Povo e reproduzido neste site com autorização da autora.
